sábado, 16 de maio de 2009

Na Lembrança um Amigo




É com grande pesar que lemos no jornal de Portugal Correio da Manhã, de 15 de maio a notícia de falecimento do amigo e companheiro Antônio Correia Francisco, mais conhecido pelo pseudônimo de Edgar Rodrigues, um dos mais importantes pesquisadores do movimento anarquista e das lutas operárias em Portugal e no Brasil. Nascido em Angeiras/ Porto, a 12 de março de 1921, fugindo da ditadura de Oliveira Salazar e sua P.I.D.E. (Polícia Internacional de Defesa do Estado), a qual efetuava “cruéis e brutais perseguições (...) especialmente, contra anarco-sindicalistas”[1] - que vitimiza seu pai Manuel Francisco Correia -, exila-se no início da década de 1950 no Brasil, fixando-se no Rio de Janeiro, logo agregando-se ao movimento anarquista brasileiro.


Nestes mais de cinqüenta anos de militância libertária equacionara importante contribuição a imprensa libertária brasileira e internacional (escrevendo para El Libertário de Cuba, Solidariedad Obrera da França, Ação Direta do Brasil, Voluntad do Uruguai, entre outros) assim como, dando forma a uma gama de obras especialmente sobre as experiências libertárias no Brasil que excedem mais de 50 livros, enquanto fruto de exaustivo trabalho de coleta e compilação, iniciado em 1957, a principio para atender um pedido do jornal Voluntad de Montevideu (Uruguai), pouco a pouco dando forma e tons a um trabalho mais amplo. Entre suas primeiras obras destacam-se três importantes estudos sobre as trajetórias operárias e libertárias fomentadas sobretudo na primeira metade do século 20, Socialismo e Sindicalismo no Brasil [1969], Nacionalismo e Cultura Social [1972] e Novos Rumos [1978] - publicados em meio a ditadura militar que oprimia a sociedade brasileira- , escritos estes, que se tornariam destacadas referências do movimento operário no Brasil. Sobre as motivações de sua pesquisa, comentou: “para mim escrever livros foi uma conseqüência da pesquisa e coleta de informações. A minha formação é autodidata, os métodos de pesquisa, se assim os posso chamar, são os que fui experimentando e melhorando ao longo desse meu trabalho. Minha principal preocupação tem sido não deixar perder documentos que ia descobrindo e divulgar uma história que vinha sendo ocultada e deturpada do movimento social no Brasil”[2]. Reportando-se a sua trajetória de pesquisador social, em uma de suas cartas remetida a minha pessoa mediante intercambio de informações sobre pesquisas iniciado em 2004, ele escreve: “saía do Rio de Janeiro, nos fins de semana procurando pessoas e publicações que a maioria não existiam. Fiz uma imensa lista com mais de 500 títulos e andava também pelos sebos, etc. Em jornais diários também consegui muita coisa, com a devida cautela (...) Foi assim que cheguei ao que fiz e a um arquivo – creio que valioso – que cheguei a ter”[3].


E nesta senda, fica na memória a curta, porém gratificante troca de idéias realizada via correspondência com Edgar, que desde o primeiro momento mostrou-se disposto a socializar informações a cada carta, apoiando minhas investigações sobre as experiências libertárias em Santa Catarina – motivadas por seus trabalhos -, que davam os lampejos iniciais, outrossim, me remetendo várias de suas obras, entre essas seu último trabalho publicado em vida Lembranças Incompletas – que ampliavam minhas leituras, assim como, meu mosaico de sinais. E neste tempo de amizade à distância, Rodrigues afirma: “quero também dizer que louvo e incentivo e apoio o seu trabalho e de outros jovens companheiros que entram nessa seara sem fim que sensibiliza todos os que nela entram: a pesquisa social é muito emocionante, desperta o interesse cada vez maior de descobrir mais e mais (...)”[4].


Mesmo que aos 88 anos de idade esse artesão da escrita nos deixe, seu exemplo e sua obra espelham a grandeza de seu caráter.
Assim como minha primeira carta remetida ao anarquista e esperantista Edgar Rodrigues iniciava com um Saluto Anakisto (em esperanto), encerro essa escrita com De nun Resopiro[5].



[1] RODRIGUEZ, Edgar. O Retrato da Ditadura Portuguesa. Rio de Janeiro: Mundo Livre, 1962. p. 7.
[2] Catálogo da Exposição Edgar Rodrigues – Pesquisador Libertário da História Social de Portugal e do Brasil. Lisboa: Associação Cultural A Vida, 2002. p. 17.
[3] Carta de Edgar Rodrigues datada de 13 de dezembro de 2004.
[4] Carta de Edgar Rodrigues datada de 14 de agosto de 2006.
[5] Desde já saudades.

Um comentário:

  1. Caros Amigos
    Hoje estou aqui a visitar, seu extenso conhecimento literário e quero dar os parabens pela luta.
    Se cada um de nós fossemos menos hipócritas, mais verdadeiros e nos preocupássemos uns com os outros,
    teríamos certamente um mundo melhor.
    Auriberta
    http://www.alerta-radioatividade.com
    email dakarmg@terra.com.br

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