quinta-feira, 30 de abril de 2009

Maio Vermelho e Negro



“Não. O Primeiro de Maio não é um dia de festa. É um dia de luto e de protesto. E é um dia em que se ensaiam, pondo-as á prova, as forças revolucionárias do proletariado de todo o mundo”. Bradava assim, o jornal A Voz do Trabalhador – Órgão da Confederação Operária Brasileira -, de 15 de abril de 1913 impresso no Rio de Janeiro por mãos plebéias. Mas o que estaria por trás do Primeiro de Maio, esta data aclamada pelas classes laboriosas? Pois bem, convido-os a mergulharem neste afluente da história, deixando-se levar por suas correntezas, rumo a terras distantes.


Manhã de sábado, primeiro dia de Maio de 1886, uma greve geral silencia várias cidades norte-americanas, especialmente Chicago. Envoltos pelas idéias socialistas e anarquistas, trabalhadores organizados num movimento pacífico reivindicam: “Oito horas de trabalho! Oito horas de repouso! Oito horas de educação!”. Manifestação que seria recebida pelas autoridades com truculência. Frente a tal situação, manifestantes marcam para o dia 4 de maio um comício contra a violência, que terminou em mais agressões diante o ataque feroz de policiais contra homens, mulheres e crianças, tumulto que se agravaria ainda mais, mediante a explosão de uma bomba, ferindo cerca de sessenta pessoas e matando oito policiais. O autor real do atentado nunca fora descoberto.


Tal acontecimento seria imortalizado pela obra de Frank Harris A Bomba, escrito que apesar de assumir-se como ficcional, para muitos (pelos detalhes da descrição) seria uma espécie de confissão, elaborada pelo responsável da explosão. Seja como for, diante do incidente com a bomba, a polícia de Chicago age com mais violência contra os manifestantes, deixando as ruas tingidas de sangue. Sobre este trágico dia, José Luiz Del Roio, na obra A história de um dia: Primeiro de Maio, comenta: “Nunca se conseguiu apurar quantos foram os mortos daquele maldito dia, pois os corpos foram enterrados às escondidas. Seguramente foram dezenas. É decretado o estado de sítio e a proibição de sair às ruas. Milhares de trabalhadores são presos, muitas sedes sindicais incendiadas”.


Além da violência contra os trabalhadores, às autoridades norte-americanas moveriam uma ação judicial contra destacados militantes sindicais, chegando inclusive a responsabilizá-los pela explosão da bomba. Entre os processados estavam: os anarquistas August Spies e Michel Schwab (redatores dos jornais operários: Arbeiter Zeitung [Jornal do Trabalhador], e Verboten [Proibido]), Albert Parsons (editor do jornal Alarm), assim como, Sam Fielden, Oscar Neeb, Adoloph Fischer, Louis Lingg e Georg Engel.


Iniciado em 21 de junho de 1886, o julgamento seria marcado por provas e testemunhas forjadas, visando efetuar uma punição exemplar ao movimento operário organizado, sendo que todos acabariam condenados: Neeb pega quinze anos de cárcere; Schwab e Fielden prisão perpétua; Engel, Fischer, Parsons, Lingg e Spies à forca. Diante da sentença – conforme destaca José Luiz Del Roio -, Neeb, expõe: “Cometi um grande crime, excelência. Eu vi os balconistas dessa cidade trabalhar até 9 ou 10 horas da noite. Lancei um apelo para a organização da categoria e agora eles trabalham até as 7 horas da noite; aos domingos estão livres. E isso é um grande crime”.


E, sob a espada da “justiça”, no dia 11 de novembro, os condenados foram levados à forca, ocasião em que Georg Engel gritou: “Viva a anarquia!”. Com isso, os “Mártires de Chicago” marcariam para sempre o Primeiro de Maio enquanto uma data em prol daqueles que sobrevivem da sua própria labuta. Assim, enquanto as autoridades, pelo poder da violência silenciavam tais homens suas idéias e sonhos - de tempos menos injustos – permaneceram vivas, germinando ora aqui, ora ali.
Cleber Rudy

domingo, 26 de abril de 2009


Primeiro Colóquio do Anarquismo Social em Florianópolis




Em meio a sexta-feira chuvosa que encharcava a paisagem urbana da outrora Desterro, anarquistas, simpatizantes da causa libertária e personas afins se reuniam - rompendo a monotonia citadina -, no começo da noite do dia 24 de abril, no centro da capital catarinense, na sede do Sintespe, para conversas e debates em torno da prática e eficácia do anarquismo social nas atuais lutas implementadas no Brasil.

Giovanni Baldelli define anarquismo social nos seguintes termos: “significa que o anarquismo visa o bem da sociedade (...) os homens, por quererem e estimarem certas coisas, encontrarão no anarquismo o melhor sistema para as salvaguardar”, que no Brasil faz adeptos via experiências levadas a cabo por entidades como a Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ) e a Federação Anarquista Gaúcha (FAG) de Porto Alegre, representadas no Colóquio por Rafael Viana (FARJ e Movimento dos Trabalhadores Desempregados) e Eduardo Colling (FAG), outrossim contando com a presença de Victor Calejon do Movimento Passe Livre, e do professor José Carlos Mendonça, da área da Sociologia Política e vinculado ao marxismo heterodoxo que sinalizava um contraponto ideológico, enquanto demonstração de distinções e aproximações entre as idéias anarquistas e marxista, no campo da teoria política. Pois como observou o pensador norte-americano Gilbert Green “o marxismo e o anarquismo têm uma coisa em comum: ambos mostram profunda preocupação pelo destino do homem e firme crença na viabilidade de uma sociedade em que, (...) ´o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos`.” Tentativas de aproximações destas duas tendências socialistas – salvo críticas a parte -, ganhariam corpo especialmente a partir dos anos 60, tendo como alguns dos seus importantes representantes o francês Daniel Guerin (defensor de uma espécie de marxismo libertário) e o espanhol Carlos Díaz, ainda como, no Brasil, Mauricio Tragtenberg.

Permeando experiências libertárias voltadas para o âmbito social, especialmente as realizadas pela Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ), - entidade surgida em 2003 -, Rafael Viana dá exemplos através de trabalhos sociais relacionados com reciclagem, agro-ecologia/eco-educação, cooperativa de bolinhos, realizada na periferia do Rio e envolvendo desempregados, assim como, articulações com o movimento dos sem-tetos, etc..., o Colóquio pontuou insistentemente a importância da atuação anarquista nos movimentos sociais, em prol da organização popular e da luta de classes, rumo a revolução social...

Evento que disponibilizava os últimos lançamentos da editora Faísca entre estes Anarquismo Social e Organização elaborado pela FARJ e Catecismo Revolucionário de Mikhail Bakunin e jornais como: Socialismo Libertário e Libera.

Organizado pela FARJ, FAG, Editora Faísca e Grupo da Idéias e Práticas Anarquistas (GEIPA) de Joinville, tal Colóquio surge da troca de idéias e experiências dos membros da Rede de Apoio da FARJ que no começo de fevereiro do corrente reunia-se em Florianópolis, esmiuçando entre as suas propostas o estreitamento de laços entre militantes da Rede de Apoio da FARJ e grupos ou indivíduos anarquistas alhures, assim como, e especialmente com os movimentos sociais, outrossim, da realização para o mês de abril do Primeiro Colóquio do Anarquismo Social nas cidades de Curitiba, Florianópolis e Joinville.

Os articuladores da reunião em sua carta aberta da rede de apoio à FARJ pontuam: “Nas cidades de Curitiba/PR, Joinville/SC e Florianópolis/SC não existem registros históricos de organizações específicas anarquistas, e até onde sabemos, a militância anarquista iniciada nos fins do século XIX pelos imigrantes europeus, em meio as organizações sindicais, aos poucos se desorganizou e se desarticulou, não sendo hoje, nem sombra da ameaça que já representou ao capital, e nem a esperança de justiça e liberdade que já foi referência para as classes exploradas. Atualmente, e desde os anos da ´reabertura democrática` no Brasil, a referência normalmente encontrada nessas cidades é a do Anarquismo Comportamental, defendida e propagandeada pelas correntes identificadas com a contracultura.”

Dito isto, torna-se oportuno uma crítica atrelada a importância de averiguar as formas e cores das trajetórias libertária em Santa Catarina - que situado em suas especificidades se distancia do modelo de luta anarquista implementando na região sudeste -, o Estado catarinense sem grandes mobilizações operárias em grande parte de seu território (a exemplo de Florianópolis, Lages, São José, que jamais abrigaram um grande número de indústrias) seria marcado por experiências dispersas, que agregavam em certo grau muito mais práticas individuais do que coletivas, assim como, efetuando certa vinculação com outros setores revolucionários (socialistas, anticlericais). Não obstante, na primeira metade do século 20 em Santa Catarina, tem-se uma atuação marcada majoritariamente por imigrantes, como os italianos, Giovanni Rossi (em Rio dos Cedros e Florianópolis), José Verzola e Arthur Galletti (em Florianópolis), Nulo Beccari e Cesare Sartori (em Lages) dos espanhóis, Carlos Condor (em Joinville) e Baldomero Miguez (em Curitibanos e Videira) dos alemães Fritz Koch e George Sterneck (Blumenau), que mesmo não compondo agremiações ou no mais das vezes movimentos organizados, interferiam na realidade local, quer via greves, boicotes, distribuição de periódicos como A Plebe e A Lanterna ou através da criação de cooperativas agrícolas ou colônias ácratas. Outrossim, efetuando um estreito contato com centros urbanos politicamente mais dinâmicos como São Paulo e Rio de Janeiro.

Por seu turno, na segunda metade do século 20, especialmente a partir do “processo de abertura” sinalizado pelo governo Geisel nos anos 70, grupos libertários começam a ganhar forma sobre tudo na capital catarinense, a exemplo do Núcleo Anarquista de Florianópolis (NAF) formado por alunos universitários e engajado em campanhas pela Anistia, que se mostrava articulado com outros coletivos sulistas na distribuição do jornal baiano O Inimigo do Rei que naquele período convertia-se num dos importantes veículos de propagação das idéias anarquistas (cingido ao pensamento da contracultura) no Brasil.

Neste sentido, pelos anseios dos “inimigos do rei” articulados em Santa Catarina, e com fortes vínculos como anarquistas gaúchos – e em contato com grupos do sudeste -, se organiza nos anos 80, um importante encontro libertário na esteira da “re-abertura”, realizado na Lagoa da Conceição num espaço cedido por Wilson Rio Apa – importante figura do anarquismo em Santa Catarina, responsável pelo extinto jornal libertário ClãDestino -, em pleno carnaval de 1982, contando com a presença de libertários de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, visando entre outras discussões a reorganização dos trabalhadores segundo os princípios do Sindicalismo Revolucionário – enquanto referência as premissas do Primeiro Congresso Operário Brasileiro de 1906, que deu forma a Confederação Operária Brasileira (COB) -, defendendo a proposta de redução da jornada de trabalho e a produção autogestionária, resoluções acordadas durante este encontro de cariz nacional que seriam encaminhadas ao CONCLAT (Congresso Nacional das Classes Trabalhadoras) que se realizaria em São Paulo. Em 1984, do intercâmbio de militantes de Santa Catarina com a Editora Novos Tempos de Plínio Augusto Coelho, situada em Brasília, marcava presença nas cidades de Florianópolis e Blumenau o pensador francês Jean Bancal, que falava sobre a importância do pensamento de Pierre-Joseph Proudhon, em prol da autogestão e contra o burocratismo estatal.

Tempo depois, via a insistência de libertários do Rio Grande do Sul era realizada a Primeira Jornada Libertária em Florianópolis em fevereiro de 1986, com apoio internacional da CNT da Espanha, FORA da Argentina entre outros, evento que tinha como pauta principal a reconstrução da Confederação Operária Brasileira (COB), enquanto entidade autônoma de luta da classe trabalhadora, versando ainda, preocupações referentes a ecologia social, pedagogia libertária e a articulação dos anarquistas nos movimentos sociais, sinalizando desta forma, para um novo contexto de lutas sociais do pós-ditadura cingido por novos atores (a exemplo: movimento negro, ecológico).

Nesta senda, surge nos anos 90 o Centro de Estudos Cultura e Cidadania (CECCA) que se definia como um órgão de assessoria para projetos alternativos calcado em perspectivas libertárias, que através de um grupo de Ação Jurídica tinha como meta central o estudo e a pesquisa de um direito alternativo, e que desenvolvia a “prestação de serviços aos movimentos sociais em áreas como direitos humanos, conflitos de propriedade, direitos do consumidor, direito ecológico” . E como um de seus resultados pode ser mencionado o amparo no campo jurídico à luta implementada junto aos moradores do bairro Rio Tavares, contra a ocupação irregular da área de preservação da Lagoinha Pequena. Posicionamentos favoráveis a práticas marcadas pela ecologia social, assim como, pelo municipalismo libertário de Murray Bookchin, fizeram parte das pautas do CECCA, que manteve produtivos vínculos com demais movimentos na Ilha de Santa Catarina como o Movimento Negro, o Movimento Anarco Punk – que em 1993 dava o primeiro passo referente a prática de okupação urbana no Brasil de cariz libertário, enquanto ação agregada do movimento squatter -, e o Libérula – Tribo Cultural, grupo este, responsável pelo informativo LiberNete e pela criação de uma Rede Libertária em 1993 que agregava o coletivo Grávida de Curitiba, Centro de Estudos Libertários (CEL) do Rio de Janeiro, e militantes de São Paulo.

Os anos 90 gestavam ainda práticas realizadas no campo da pedagogia através da criação em 1991 do Núcleo de Alfabetização Técnica (NAT), integrado por Maria Oly Pey, Ierecê Rego Beltrão, Raquel Stela de Sá, entre outros, que propunham um educação libertária, que se valendo da elaboração de oficinas voltadas aos mais diversos grupos sociais, buscava “trabalhar os saberes, aproximando-os da realidade, fazendo sentido para quem aprende e para quem ensina” . Anseios pedagógicos marcados pelo ideal libertário levados a cabo nos dias atuais no bairro Siriú em Garopaba, através do Instituto Amanamanha, que almeja a desenvoltura de práticas autogestionárias, através de práticas educativas com crianças.

Outra experiência que merece registro no presente tempo, é a Ong Anarquistas Contra o Racismo (ACR) de Criciúma, que trabalha conjuntamente com segmentos do Movimento Negro, desenvolvendo trabalhos sociais com crianças de bairros periféricos. Também através do espaço Kaleidoscópio, que abriga biblioteca comunitária, desenvolvem amostra de vídeos, oficinas de culinária, artesanato..., sendo ainda responsáveis pela realização do evento Maio Negro (que vai para 8 anos de existência), que vinculado a UNESC promove palestras e discussões acerca das populações afrodescendentes, enquanto agentes históricos e sociais valorizativos na constituição da sociedade brasileira.

Para tanto, enquanto libertário e pesquisador das experiências libertários em Santa Catarina, almejo com tal mosaico de situações demonstrar que o anarquismo em solo catarinense é "diferente" e não inerte em suas representações e ações, fazendo-se atuante.

Como bem pontuou o editor em Lisboa da revista anarquista Utopia José Maria Carvalho Ferreira, “os anarquismos são práticas diferenciadas da própria anarquia, com isto quero dizer, que o indivíduo por si só, tem uma personalidade, uma maneira de aprender e de viver, por tanto, a partir daí, ele assimila e aprende a anarquia e sua maneira” , e com base em qual pluralidade (que a história já demonstrou estar cingida por divergências, a exemplo dos debates equacionados outrora entre Errico Malatesta e Giovanni Rossi ou na atualidade entre Murray Bookchin e Hakin Bey) podemos ponderar que o Anarquismo Social apresenta-se como um dos caminhos entre outros para a Anarquia. Saluto!


sábado, 25 de abril de 2009

Adeus as Armas




ADEUS AS ARMAS*
Sindicalismo Revolucionário e propaganda antimilitarista frente à Grande Guerra.


Cleber Rudy



“O heroísmo das batalhas
é um heroísmo secundário,
de matar para não morrer,
de matar e morrer porque
lhe ordenam matar e morrer”.

Astrojildo Pereira, O Desertor.


Uma fronteira de trincheiras.

Para cada veterano, morrem de cinco a dez recrutas. Um ataque inesperado de gás ceifa a vida de muitos. Nem chegaram a aprender o que fazer. Achamos um abrigo cheio de homens com os rostos azulados e lábios negros. Numa trincheira, tiraram cedo demais as máscaras; não sabiam que o gás se mantém mais tempo no chão; vendo os outros lá em cima, sem as máscaras, arrancaram as suas, e engoliram gás suficiente para queimar os pulmões. Seu estado é desesperador, engasgam com hemorragias e têm crises de asfixia, até morrer.[1]


Assim registrava seu cotidiano no front da Primeira Guerra Mundial, o soldado Erich Maria Remarque, diante de uma Europa que se autoflagelava. Sanha militarista, que envolveria novas tecnologias[2] e um enorme contingente humano, em batalhas em nome de interesses imperialistas e nacionalistas.
Sobre o conflito o historiador Eric Hobsbawm, expõe:

Milhões de homens ficavam uns diante dos outros nos parapeitos das trincheiras barricadas com sacos de areia, sob as quais viviam como – e com – ratos e piolhos. De vez em quando seus generais procuravam romper o impasse. Dias e mesmo semanas de incessante bombardeio de artilharia – que um escritor alemão chamou de “furacões de aço” (...) – “amaciavam” o inimigo e o mandavam para baixo da terra, até que no momento certo levas de homens saíam por cima do parapeito, geralmente protegido por rolos e teias de arame farpado, para a “terra de ninguém”, um caos de crateras de granadas inundadas de água, tocos de árvores calcinadas, lama e cadáveres abandonados, e avançavam sobre as metralhadoras, que os ceifavam, como eles sabiam que aconteceria. A tentativa alemã de romper a barreira em Verdun, em 1916 (fevereiro-julho), foi uma batalha de 2 milhões de homens, com 1 milhão de baixas. (...) A ofensiva dos britânicos no Somme, destinada a forçar os alemães a suspender a ofensiva de Verdun, custou à Grã-Bretanha 420 mil mortos – 60 mil no primeiro dia de ataque.[3]

Descrição que se reporta a “Frente Ocidental” projetada pela Alemanha, um marco de frustração estratégica e mortandade.
Todavia, esta “mãe de todas as guerras” mobilizaria setores que viam na campanha antimilitarista uma arma contra o extermínio de nações. Entre estes, anarquistas e sindicalistas revolucionários, se mobilizariam via comícios e imprensa, contra a marcha belicista.
Para tanto, a propaganda antimilitarista já se articulava antes do eclodir da Grande Guerra, aliciado aos princípios anarquistas da objeção militar. Desta forma, “(...) a guerra são factos internacionais, comportando perigos internacionais, e que só podem ser combatidos internacionalmente através duma luta pela paz real e por uma verdadeira liberdade”.[4] Ainda, Leon Tolstoi reitera:

O fato de que, para servir ao exército, todos os homens sejam obrigados a interromper o curso normal de suas vidas representa uma violação ao direito de produzir.
A ameaça constante de uma guerra que poderá eclodir a qualquer momento torna vã e inúteis todas as tentativas de reforma social.
[5]

E completa,

Os governos europeus tratam de sobrepujar-se uns aos outros, aumentando seu armamento e obrigando-se a adotar o expediente do serviço militar obrigatório como meio de engajamento de maior número de tropas ao menor custo possível. A Alemanha foi a primeira a elaborar este plano, e logo após ser colocado em prática por uma nação, as outras se apressaram em seguir o exemplo. Assim, todos os cidadãos tomariam as armas para sustentar os dogmas em prejuízo deles mesmos. De fato, converteram-se em seus próprios opressores.[6]

Autor de Ana Karenina e Guerra e Paz, o escritor russo – outrora oficial do exército russo -, convertido em militante pacifista tecia suas considerações sobre a questão militar, “se todos fizessem a guerra por convicção não haveria guerras”.[7]
Preocupações que teriam ressonância no Brasil, através da constituição da Liga Antimilitarista e de periódicos como A Voz do Trabalhador.


Não Matarás!

As primeiras décadas do século XX seriam marcadas por uma insistente mobilização antimilitarista, levada a cabo por libertários em terras brasileiras e alhures, revelando preocupações com a questão militar muito antes dos rumores da preparação de uma Grande Guerra.
O movimento antimilitarista ensaiava seus primeiros passos em 1907, com a realização de comícios contra o “Alistamento Militar Obrigatório”, frente um projeto apresentado pelo ministro da Guerra, o Marechal Hermes da Fonseca. Em maio de 1908, mesmo diante de acirradas discussões que permeavam tal iniciativa, era aprovada a “Lei de Serviço Militar Obrigatório”.
Envolto em tal atmosfera, no meio operário como afronta a Lei de obrigatoriedade militar, surgia a Liga Antimilitarista, tendo como porta-voz o jornal Não Matarás! , - nome que possivelmente seria uma alusão ao 5º mandamento cristão.
Enquanto parceria, o jornal A Voz do Trabalhador, em suas páginas fazia a seguinte menção: “OPERÁRIOS, lede e auxiliai o jornal NÃO MATARÁS! Órgão da Liga Antimilitarista Brasileira”. Periódico este, que no transcurso de 1908 seria fechado e teria seus redatores presos, pelas autoridades do Rio de Janeiro.
Sobre a essência da campanha antimilitarista, em prol de uma Liga Brasileira, constata-se que:

(...) diante da recente decretação do serviço militar obrigatório no Brasil, os cidadãos reunidos na sede da Federação Operária do Rio de Janeiro, (...) a 26 de janeiro de 1908, resolveram.
1º - Aconselhar aos cidadãos brasileiros e sobretudo proletários que, firmando-se no Parágrafo 2º, art. 75 da lei do sorteio militar, aleguem crenças e idéias que se incompatibilizam com a vida militar(...).
2º - Caso esta alegação e respectivo artigo da lei não sejam respeitados, devem os conscritos recusar-se tácita e terminantemente a assentar praça, recorrendo à fuga, à emigração, à resistência material e, na impossibilidade, à resistência passiva, mas invencível e terminante (...).
3º - Fundar uma associação intitulada Liga Antimilitarista Brasileira (...).
[8]


Manifesto que ao ser publicado, traria contra seus organizados um processo movido pelo Governo, na época sob a responsabilidade de Afonso Pena.
Acerca do Sorteio Militar, implementado pelo Marechal Hermes da Fonseca, a historiadora Maria Conceição Pinto de Góes, explica, “neste período, o Estado retirava da população (não obrigatoriamente) das classes subalternas os indivíduos que deveriam compor as suas tropas. Essa escolha independia da vontade destes”.[9]
O primeiro número de A Voz do Trabalhador traz em sua primeira página em letras grafais traz “PELA PAZ DOS POVOS, Guerra á Guerra! Projeto da Confederação”, no qual afirma:

Mais uma fez os traficantes do patriotismo, os abutres sanguinários que vivem dos restos de carnificinas humanas e que por isso mesmo tem todo o interesse em provoca-las, querem lançar numa luta bárbara e fratricida dois povos que nunca mal algum se fizeram e para os quais, reciprocamente, as conseqüências duma guerra não poderiam ser mais desastrosas.
Que razões de ódio tem o povo argentino para com o brasileiro e o brasileiro para com o argentino?
Nenhuma, a não ser as fantásticas quimeras inventadas pelos mercadores da imprensa que, ou são uns malvados ou não compreendem as terríveis e funestas conseqüências que as suas excitações criminosas poderiam produzir.
O povo não quer guerra!
O povo não tem nada com as intrigas diplomáticas dos que, valendo-se de todos os meios, galgaram as altura do poder e dele se aproveitam em beneficio dos seus interesses particulares.
O povo não quer servir a ambição dos políticos e militares de profissão para os quais a guerra é apenas um pretexto para adquirir brilho e posições rendosas.
[10]


Impasses os quais registrados pelo jornal, marcariam o ano de 1908 enquanto clima de guerra entre Argentina e Brasil, mediante uma briga entre os ministros das Relações Exteriores dos dois países. Acontecimento que ficaria conhecido como “Questão Zeballos”.
Movidos por princípios antimilitaristas, acordados durante o Primeiro Congresso Operário no Brasil, a Confederação Operária Brasileira, divulgava uma Circular de repúdio a um possível conflito entre os dois países. Uma versão em espanhol fora enviada a Argentina. Entre as adesões divulgadas no segundo número de A Voz do Trabalhador, tem-se de Buenos Aires o jornal antimilitarista Luz al Soldado, e a Federación Regional Obrera Argentina, ainda como, a Federación Obrera del Uruguay.
Respondendo a circular da COB, o libertário Benjamim Mota escrevia ao periódico de São Paulo, a Folha do Povo:

Que penso da guerra?
Que pode um homem, emancipado das mentiras da civilização burguesa, pensar da guerra?
A guerra é uma monstruosidade, é um crime de lesa civilização e de lesa humanidade. A guerra é uma ressurreição dos instintos do homem bárbaro dos períodos pré-históricos nos homens de um ciclo e civilização mais adiantada.
[11]

Todavia A Voz do Trabalhador, incitava: o povo não deve só não querer a guerra, deve manifestar sua aversão a tal feito, e ruboriza “Guerra á Guerra!”. Desta forma, a COB instigava uma greve geral de protesto para o dia 1º de dezembro de 1908 enquanto repúdio ao clima de guerra perpetrado pelos governos argentino e brasileiro.
Sobre a manifestação do 1º de dezembro o jornal registra, “(...) diversos companheiros carregavam bandeiras ostentando em grandes caracteres os seguintes dizeres: ´Pela paz dos povos`, ´Guerra á Guerra!`, ´Viva a confraternização do proletariado brasileiro e argentino`, ´Viva a fraternidade Sul Americana`e um em inglês: ´Peace on earth` (Paz na Terra)”.[12] Ato que segundo o jornal, teria reunido 5 mil manifestantes, o que deixou os organizadores satisfeitos, já que fora a primeira manifestação pública antimilitarista realizada no Rio de Janeiro.
Em sua edição de 3 de agosto de 1909 o jornal A Voz do Trabalhador trás, um artigo um tanto quanto curioso acerca do antimilitarismo na América do Norte. Se reportando a uma conferência da anarquista Emma Goldman efetuada em San Francisco sobre o patriotismo, realizada em 1908, expõe que um militar que estava no auditório foi até a conferencista e apertou-lhe a mão, “reconhecendo como verdadeiro tudo quanto dizia a oradora em relação á Guerra, Pátria e Patriotismo”, ainda o jornal afirma, “Imaginem! Por este crime terrível foi esse militar, que se chama William Buwalda, condenado pelo conselho de guerra a 5 anos de prisão (...). Mas tarde, por se terem levantado inúmeros protestos, foi (...) absolvido”.[13]
As experiências antimilitaristas levadas a cabo por libertários não tardariam em tornar-se alvo de “uma grande repressão e ameaça de expulsão aos que não eram naturalizados brasileiros. Em 1908, ano em que foi aprovada a lei que instituía o serviço militar obrigatório, a repressão foi intensa”.[14] Entre as brumas de um ambiente de repressão a polícia, “travestida” de Scherlock Holmes, divulgava no jornal Correio da Manhã, de 2 de janeiro de 1908, uma mirabolante teoria conspiratória, “a descoberta de uma plano anarquista com ramificações internacionais, para afundar parte da esquadra americana que estava ancorada no Rio de Janeiro”.[15]
Ainda as páginas de A Voz do Trabalhador registravam a soltura do militante antimilitar Manuel Domingues, “preso pela distribuição de boletins contra o sorteio militar”.[16]


Sindicato, anarquismo e revolução.

O anarquismo enquanto orientação e organização política implementada por imigrantes italianos, espanhóis e portugueses, com força nas primeiras décadas do século 20 entre o operariado brasileiro, - instigando motins, sabotagens e greves, enquanto afronta a estabilidade capitalista -, traria em sua senda, por vezes a defesa do sindicalismo radical, como arma de luta, rumo a almejada revolução social. Todavia, perspectivas de mundo baseadas no anticlericalismo e no antimilitarismo atreladas ao pensamento libertário, apimentariam ainda mais seu discurso político. Perspectivas as quais, que no sindicalismo revolucionário encontravam um veio de propagação, como o fora no Brasil com o periódico A Voz do Trabalhador, que além de artigos de tonalidade operária sindical, trazia texto anticlericais e antimilitares, e ainda distribuía obras tais como, “A peste religiosa” de João Most, “O Sorteio Militar” de Cezar Mendes e “Tributo de Sangue” de Carlos Dias.
Enquanto projeção libertária, o sindicalismo radical surgia como a possibilidade de expropriação da burguesia, através de uma Greve Geral de cariz revolucionário. O libertário Neno Vasco em Concepção Anarquista do Sindicalismo, pontua.

Certamente, os anarquistas e outros socialistas esperam do sindicalismo muitas coisas: que os operários nele tomem consciência da luta de classes, do irredutível antagonismo de interesses existentes entre eles e os capitalistas; que na acção e em contacto com seus iguais no sindicato, os trabalhadores se apercebam da insuficiência dos melhoramentos parciais e da necessidade de expropriar a burguesia e reorganizar a sociedade sem parasitismo e em proveito de todos os produtores.[17]

O sindicalismo revolucionário visto como um ideal de sociedade futura, além de se colocar como um veículo de luta e reivindicação, se punha como a base da nova sociedade. Ao proclamar a abolição do Estado, propunha a consolidação do Sindicato enquanto célula organizativa social.
Outra marca do sindicalismo revolucionário era a tentativa de não estar identificado com uma tendência política especifica, quer socialista, quer anarquista, mas sim se valorizando como entidade operária e radical. Embebido por tal ótica o militante Neno Vasco, novamente afirma, “Os anarquistas conscientes não pretendem que um sindicato se declare artificialmente anarquista. Se o fizessem, ou só ficariam nele os anarquistas, sem ter, portanto a utilidade particular do agrupamento de interesses, do sindicato (...)”.[18]
Sobre as origens do sindicalismo revolucionário, a historiadora Edilene Toledo, conclui:

A base e o fundamento do sindicalismo revolucionário era o texto aprovado no congresso da CGT (Confédération Générale du Travail) francesa em 1906. Ele afirmava a independência do sindicalismo em relação ao socialismo e ao anarquismo. Seus objetivos centrais eram organizar os trabalhadores na defesa de seus interesses morais, econômicos e profissionais, sem associar essa luta a qualquer partido ou tendência política. A FOSP considerava que esses princípios predominantes na CGT francesa poderiam ser aceitos por qualquer membro de um grupo socialista, fosse ele socialdemocrata, anarquista ou adepto de outra corrente, e julgava que o sucesso do sindicato estava em sua autonomia. Este era, sem dúvida, um esforço para atenuar os conflitos existentes entre os operários e, por isso, todas as doutrinas deveriam ter a mesma tolerância: dentro do sindicato todos eram operários. Fora dele, os trabalhadores poderiam se associar ao grupo que mais lhes agradasse.[19]

Os reflexos de tal concepção seriam mais tangíveis no Brasil a partir de 1906 mediante a realização do Primeiro Congresso Operário no Brasil, sediado no Rio de Janeiro. Todavia, a consolidação do sindicalismo revolucionário no Brasil se dá com o inicio das atividades da Confederação Operária Brasileira (COB) em 1908.
O Primeiro Congresso Operário no Brasil em sua pauta propunha discussões sobre orientação e organização política do operariado tento como mote às diretrizes da CGT francesa, ou seja, do sindicalismo revolucionário. Sobre o mesmo o jornal anarquista A Plebe escreve: “nas teses apresentadas para debates e aprovadas, (...) ficou evidente as preferências dos trabalhadores por um sindicalismo revolucionário, anti-militarista, apolítico e o ensino laico. Seguidamente, discutiu-se a fundação da Confederação Operária Brasileira, cuja aprovação foi votada imediatamente (...)”.[20] Outro aspecto interessante levado à discussão pelo Congresso era a preocupação com o “Operário Agrícola”, visto pelo grupo como uma categoria, vilmente mais explorada do que o trabalhador fabril, outrossim, a organização das mulheres operárias em sindicatos de resistência. Desta forma:

O 1º Congresso Operário aconselha o proletariado a organizar-se em sociedade de resistência econômica, agrupamento essencial, e sem abandonar a defesa, pela ação direta dos rudimentares direitos políticos de que necessitam as organizações econômicas, a pôr fora do sindicato a luta política especial de um partido e as rivalidades que resultariam da adoção, pela associação de resistência, de uma doutrina política ou religiosa, ou um programa eleitoral.[21]

Enquanto porta-voz da Confederação Operária Brasileira (COB), nascida do Primeiro Congresso Operário, era criado o periódico A Voz do Trabalhador que iniciava sua lide em 1 de julho de 1908 indo até 8 de junho de 1915. Jornal informativo que mesclava notícias nacionais e internacionais, tratando de assuntos como greves, repressão policial, carestia de vida, boicotes – como o perpetrado contra os moinhos Matarazzo de São Paulo -, até crítica dos costumes, tal como a condenação do carnaval, e ainda discussões acerca da reforma ortográfica.
O Jornal em sua apresentação do primeiro número afirma:

O que desejamos, e havemos de conseguir, custe o que custar – é a emancipação dos trabalhadores da tirania e exploração capitalista, transformando o atual regime econômico do salariato e do patronato num regime que permita o desenvolvimento de organizações de produtores – consumidores, cuja célula inicial está no atual sindicato de resistência ao patronato.
Como meio prático, como método de luta para alcançar tal desideratum, adotará e usará o sindicalismo revolucionário.
[22]


Para tanto o poder de propaganda de A Voz do Trabalhador estava em sua amplitude, como podemos perceber diante de menções em suas páginas a atos e feitos em terras catarinenses – região esta de diminuta presença operária -, tais como o jornal anticlerical de Florianópolis O Clarão e a organização União Operária de Laguna.


Guerra á Guerra!

Diante do clima de tensões entre nações que investiam na “Paz Armada”, enquanto diplomacia do pré-Guerra, a Confederação Operária Brasileira (COB), através de seu jornal A Voz do Trabalhador, que ressurgia[23] em janeiro de 1913, se punha contra o ideal belicista.

A ameaça duma conflagração européia paira ainda, sinistramente, sob os céus do velho mundo.
Por isso o proletariado europeu, o maior, ou o único sacrificado, no caso de rebentar a hecatombe, agita-se, formidavelmente, procurando impedir por todos os modos os projetos diplomáticos das grandes potências.
E a França, a França proletária, a sentinela avançada das forças revolucionárias, sobressai nessa agitação, como um empecilho sério diante da vontade dos governos em levar avante o que eles chamam, com propriedade, uma “sangria no movimento revolucionário”.[24]

Assim, frente uma guerra iminente a CGT francesa mediante deliberações acordadas em congresso, lançava o brado internacionalista: “Abaixo a Guerra entre os povos!”.
O historiador Paulo G. Fagundes Vizentini, tece o seguinte panorama sobre o período da “Paz Armada”:

Os diversos governos europeus intensificaram a preparação militar, baixando leis, incrementando a produção de novos armamentos (sobretudo canhões de grande calibre, metralhadoras e os encouraçados Dreadnough) e reorganizando os exércitos, particularmente com a ampliação do serviço militar. Além disso, multiplicam-se por todos os países as manifestações chauvinistas e militaristas. Em Berlim fala-se na necessidade de uma guerra preventiva, e o cenário para ela já está montado.[25]


E diante deste palco, o primeiro ato do drama, era “encenado” em 28 de julho, com a declaração de guerra da Áustria sobre a Sérvia, em represália ao assassinato de seu herdeiro imperial Francisco Ferdinando, morto pela organização Sérvia, Mão Negra. Para tanto no início de agosto a Guerra encontrava-se generalizada, iniciando “o Deus Marte (...) sua dança de morte”.[26]
Desta forma, em 5 de agosto de 1914, A Voz do Trabalhador, em letras chamativas apresenta “A CALAMIDADE UNIVERSAL! O operariado do Brasil, presente a emergência que faz sobrenadar em sangue a Europa quase inteira, declara-se solidário com os sacrificados trabalhadores europeus, nesta fase dolorosa para a história rubra do proletariado”.[27]
Se opondo a conflagração européia, este jornal, ao tratar do estopim da Guerra, - o atentado contra o arquiduque da Áustria -, tece analogias entre o jovem Gavrilo Princip e o Brutos da Roma Antiga.

Lembremo-nos de que Bruto é hoje pela história considerado como o libertador de Roma da tirania de César.
E que nos dirá que, ao sérvio Prinzip, a quem hoje com desprezo e rancor se chama assassino, a História o cognominará o precursor das futuras liberdades para o seu povo?
[28]


Assim, escrevia o anarquista Antonio Pinto Quartim, militante que ainda contribuía com o periódico anarquista A Vida,[29] o qual também se colocava contra a Guerra, sobre o mesmo encontramos anúncios de divulgação a partir de 1915 em A Voz do Trabalhador e vice-versa.
Para tanto é importante registrar que o periódico A Vida, nascia num momento de conturbadas discussões. Surgido no final de 1914, enquanto a Europa se digladiava, dividindo opiniões e posturas, inclusive entre sindicalistas revolucionários e anarquistas. Personalidades como Peter Kropotkin, Charles Malato, Jean Grave e Alceste de Ambris, tomariam posições a favor da Tríplice Entente, vista como um “mal menor” frente uma possível vitória Alemã que acarretaria na propagação do bismarckismo e do militarismo prussiano.
Debate que ganharia destaque nas páginas de A Vida:

Si a guerra européia produziu e continua a produzir um grande número de males, dela resultaram e hão de resultar alguns bens; entre estes sobressai pelo seu valor moral a discussão surgida no meio anarquista sobre a atitude de alguns camaradas de renome, tais como Kropotkine e Malato, etc. que aconselham os anarquistas a investir no conflito a favor de uma das partes beligerantes.
Esta questão que veio submeter de novo e apaixonadamente os princípios básicos do anarquismo a uma analise acurada pelos próprios anarquistas, fez ressaltar a seguinte verdade: só o anarquismo é capaz de formar indivíduos de mentalidade bastante livre para só aceitarem como certo o que o livre exame demonstra ser tal.
[30]


Considerações que saiam das mãos do anarquista Francisco Viotti, que conjuntamente com o professor e libertário José Oiticica dirigiam a revista A Vida.
E nas agitações de épocas de guerra, A Voz do Trabalhador por vezes destacaria em suas páginas a dificuldade de se ter acesso a informações precisas sobre o conflito que se travava na Europa. Dificuldades que segundo eles, eram acarretadas mediante o monopólio das linhas de comunicação pelos governantes, ou ainda, “(...) devido aos interesses e a ignorância dos agentes gerais e particulares, os telegramas só vagamente e raramente deixam escapar notícias a tal respeito”.[31]
Todavia o periódico embasado no pensamento antimilitarista estampava sua ojeriza pelo conflito:

Continua a matança. Os exércitos – os grandes fieis da burguesia decrépita – continuam o mutuo massacre. São centenas de milhares, são vários milhões de homens – de homens: ah! Que escárnio!... – engalfinhados uns contra os outros, a trucidarem, num delírio louco de sangue, de mais sangue... num vendaval furioso e desabalado de destruição, só de destruição e nada mais que de destruição...
A matança continua. O matadouro estupendo está em plena função. E por quanto tempo mais?
[32]


Desta forma, noticias de manifestações “antiguerreiras” que se projetavam na França, Hungria, Bélgica e Portugal eram vistas com animação. De Budapeste, é registrado um ato possivelmente ocorrido em 29 de julho, em que expõe: “efetuou-se uma grande manifestação socialista de protesto contra a guerra. Foram fuzilados dois organizadores dessa grande manifestação pacifica”.[33] Na mesma página acerca das manifestações realizadas em julho em Paris o periódico escreve:

PARIS, 27 - Promovidas pelos sindicalistas, realizaram-se esta noite manifestações contra a guerra nos grandes “boulevards” e na praça da República. Os manifestantes, soltando gritos de abaixo a guerra, quiseram formar em coluna, mas a polícia interviu e dispersou-se depois de algumas desordens. Efetuaram-se algumas prisões.
PARIS, 28 – As manifestações contra a guerra continuaram pela noite adiante até muito tarde. Os manifestantes, cada vez mais numerosos, tentaram novamente formar grupos que a polícia dispersava imediatamente. A meia noite estavam definitivamente dispersados os manifestantes. São em grande número as prisões efetuadas pela polícia, da qual alguns feridos.
[34]


No Brasil, os sindicalistas revolucionários e anarquistas também se mobilizavam, promovendo comícios de protesto contra a guerra, como o realizado em 13 de setembro de 1914 em vários estados brasileiros (entre eles Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Minas Gerais) organizado pela Confederação Operária Brasileira (COB).
Sobre a política de comícios contra a guerra A Voz do Trabalhador, divulga e conclama:

Tem continuado, na medida das nossas forças, o movimento iniciado contra a guerra, a favor da estabilidade da paz na Europa. (...).
A Comissão Popular de Agitação Contra a Guerra, dando cumprimento á sua missão, organizou três comícios públicos, realizados respectivamente nos domingos 11, 18 e 25 de abril. (...).
Para hoje, 1º de maio, ás 3 horas, está marcado um grande comício no largo de São Francisco (...).
[35]


Trabalhadores que movidos pelos sentimentos de solidariedade - para com os trabalhadores europeus envoltos pela Grande Guerra -, abdicavam do domingo (um dia de descanso), para irem as ruas manifestar-se contra guerra, almejando ver o povo brasileiro se opor contra a flagelação militar que varia a Europa.
Outro acontecimento contra a guerra européia que ganha atenção em 1915 no meio operário é um documento de solidariedade ao Congresso Internacional Pró-Paz em Ferrol, organizado pelo Ateneu Sindicalista da Galiza. Proibido pelo rei espanhol Afonso XIII.
Dos três delegados brasileiros que haviam se dirigido para o evento, após detenção e expulsão para Portugal, só dois dos militantes libertários chegariam às terras portuguesas. João Castanheira, um dos delegados brasileiros seria morto em Galiza, crime que ficaria sem grandes esclarecimentos.
Ainda “Contra a Guerra”, seriam organizadas conferências como a efetuada por Juana Buela - companheira de João Castanheira -, em 17 de setembro de 1914, no Centro Cosmopolita, que se intitulava: A guerra, suas causas e seus resultados. Instigando a reflexão a conferencista expunha: “que civilização é esta que quer pelo fogo de seus canhões e pelo aço de suas espadas obrigar povoações inteiras a se submeterem ao seu domínio!”.[36]


Entre tiros e explosões, vidas pulsam.

Enquanto marco sangrento entre o velho e o novo mundo, A Primeira Guerra Mundial forjaria a forma inicial do século 20, este “breve século” como ousou chamá-lo o historiador inglês Eric Hobsbawm. Revelando batalhas que para além das trincheiras conflitavam com o ser e estar em civilização. E nesta esteira, anarquistas e sindicalistas reivindicavam a virtus humana da solidariedade em oposição ao vício nacionalista e ao prejuízo da guerra. Valendo-se de um dos seus maiores recursos que era a palavra, há tempos imortalizada por Gutenberg. Desta forma, através de seus periódicos estes pensadores antimilitaristas, forjariam ações e evocariam a valorização da liberdade e da vida, para além de uma bala de canhão em fronteiras de arame farpado em terras ditas “inimigas”.

* Nome emprestado da obra homônima do escritor inglês Ernest Hemingway.

[1] REMARQUE, Erich Maria. Nada de Novo no Front. São Paulo: Abril Cultural, 1981. p. 110.
[2] Entre estas novas tecnologias tem-se: metralhadoras, lança-chamas, granadas, minas, encouraçados, submarinos, gases tóxicos, tanque de guerra, dirigíveis e aviões como o handley page 0/ 400 e albatros D. III.
[3] HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos. O breve século XX. 1914 – 1991. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 33.
[4] FREIRE, João. Anarquistas e Operários. Porto: Afrontamento, 1992. p. 328.
[5] TOLSTOI, Leon. Resistência ao serviço militar. In: WOODCOCK, George. Os Grandes Escritos Anarquistas. 4ª ed. Porto Alegre: L&PM, 1990. p. 190.
[6] Idem. A Insubmissão. São Paulo: Imaginário, 1998. p. 49.
[7] Idem. Guerra e Paz. Vol. 1. São Paulo: Ediouro, 2002. p. 50.
[8] RODRIGUES, Edgar. Um século de História Político-Social em documentos. Vol. 2. Rio de Janeiro: Achiamé, 2007. p. 105.
[9] GÓES, Maria Conceição Pinto de. A Formação da Classe Trabalhadora. Movimento anarquista no Rio de Janeiro, 1888 – 1911. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988. p. 78/ 79.
[10] A Voz do Trabalhador, Ano I, nº 1 de 1 de julho de 1908. In: A Voz do Trabalhador: orgam da Confederação Operária Brazileira: coleção fac-similar de 71 números, 1908 – 1915. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado: Secretaria do Estado de Cultura: Centro de Memória Sindical, 1985.
[11] A Voz do Trabalhador, Ano I, nº 7 de 6 de dezembro de 1908. Op. Cit.
[12] A Voz do Trabalhador, Ano I, nº 4 de 15 de agosto de 1908. Op. Cit.
[13] A Voz do Trabalhador, Ano II, nº 16 de 3 de agosto de 1909. Op. Cit.
[14] GÓES, Maria Conceição Pinto de. A Formação da Classe Trabalhadora. Movimento anarquista no Rio de Janeiro, 1888 – 1911. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988. p. 80.
[15] NETO, Oscar Farinha. Atuação Libertária no Brasil. A Federação Anarco-Sindicalista. Rio de Janeiro: Achiamé, s/d. p. 34.
[16] A Voz do Trabalhador, Ano I, nº 8 de 13 de janeiro de 1909. Op. Cit.
[17] VASCO, Neno. Concepção Anarquista do Sindicalismo. Porto: Afrontamento, 1984. p. 92.
[18] Idem. Ibidem.. p. 93.
[19] TOLEDO, Edilene. Anarquismo e sindicalismo revolucionário. Trabalhadores e militantes em São Paulo na Primeira República. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004. p. 49/ 50.
[20] RODRIGUES, Edgar. Socialismo e sindicalismo no Brasil. Rio de Janeiro: Laemmert, 1969. p. 116.
[21] Idem, Ibidem. p. 121.
[22]A Voz do Trabalhador, Ano I, nº 1 de 1 de julho de 1908. Op. Cit.
[23] O periódico iniciou sua circulação em 1 de julho de 1908 indo até 9 de dezembro de 1909, totalizando 21 números. Após um intervalo de 3 anos reaparecia em 1 de janeiro de 1913 continuando com o número 22 sua luta em prol do sindicalismo revolucionário e do antimilitarismo.
[24] A Voz do Trabalhador, Ano VI, nº XXIII de 15 de janeiro de 1913. Op. Cit.
[25] VIZENTINI, Paulo G. Fagundes. Primeira Guerra Mundial. Relações Internacionais do Século 20. Porto Alegre: Ed. da Universidade/ UFRGS, 1996. p. 41.
[26] Idem, Ibidem.. p. 42.
[27] A Voz do Trabalhador, Ano VII, nº 60 de 5 de agosto de 1914. Op. Cit.
[28] Idem.
[29] Este periódico em formato de revista surgia no Rio de Janeiro em 30 de novembro de 1914.
[30] A Vida, Ano I, nº 6 de 30 de abril de 1915. In: A Vida: Periódico Anarquista: coleção fac-similar de 7 números, 1914 – 1915. São Paulo: Ícone: Arquivo Histórico do Movimento Operário: Centro de Memória Sindical, 1988.
[31] A Voz do Trabalhador, Ano VII, nº 61 de 20 de agosto de 1914. Op. Cit.
[32] A Voz do Trabalhador, Ano VII, nº 62 de 5 de setembro de 1914. Op. Cit.
[33] A Voz do Trabalhador, Ano VII, nº 61 de 20 de agosto de 1914. Op. Cit.
[34] A Voz do Trabalhador, Ano VII, nº 61 de 20 de agosto de 1914. Op. Cit.
[35] A Voz do Trabalhador, Ano VIII, nº 70 de 1 de maio de 1915. Op. Cit.
[36] A Voz do Trabalhador, Ano VII, nº 63 de 1 de outubro de 1914. Op. Cit.

Utopias Anarquistas no Frenesi da Revolução Russa





Utopias Anarquistas no Frenesi da Revolução Russa
Experiências e anseios do movimento libertário brasileiro


Cleber Rudy*

Enquanto o Front ainda ardia, nas entranhas da Primeira Grande Guerra, o ano de 1917 – um marco ofegante do mundo contemporâneo - imprimia seus limiares ao conflito mundial,1 via os precedentes de um outro grande acontecimento: a Revolução Russa no Leste Europeu. A qual nascia “(...) da impossibilidade, para o povo, de continuar a guerra e de arrastar uma existência de fome (...) e da obstinação cega do tzarismo (...)”. (VOLIN, 1980: 123). E concomitantemente a tais convulsões políticas mundiais, no Brasil resplandeciam greves gerais e insurreições, ambicionando a expropriação do universo capitalista industrial, segundo perspectivas anarquistas que marcariam os signos de uma década (1910) que caminhava para o fim de forma explosiva. Para tanto, “na conjuntura crítica de 1917, o proletariado, como mão-de-obra superexplorada, ensaia suas aspirações emancipadoras num regime no qual prevalece a força absoluta da burguesia (...)”. (KHOURY, 1981: 16).
Diante da Revolução proletária que se lançava como uma outra possibilidade de organização social em prol da igualdade e pelo fim do capitalismo, ímpetos de transformação trazidos pelos ventos russos contagiavam os anseios de agrupamentos socialistas e anarquistas em solo brasileiro. E neste sentido, “As influências de toda uma mobilização que crescia em nome da fé na Revolução Social foram marcantes, assinalando no Brasil uma preocupação crescente com a questão social tanto da parte dos operários, quanto da burguesia e do Estado” (CAMPOS, 1988: 38).
Para os anarquistas do Brasil as histórias de uma revolução social levada a cabo por libertários na Ucrânia, na aldeia de Gulai-Pole2 – organizada por um camponês-anarquista, de nome Nestor Makhno (1889 – 1934)3 -, e as posteriores conquistas do Movimento Makhonovista frente às tropas de Wrangel e Denikin,4 instigavam a projeção revolucionária de uma Rússia libertária, alimentando a aurora de tempos novos também no Brasil.
Desta forma, “[...] A Federação Operária do Rio de Janeiro organiza manifestações públicas para o dia 1º de maio de 1917. Entre os temas a serem tratados e apreciados, estavam os combates à Guerra, o custo de vida e o pronunciamento público a favor da Revolução Russa”.(RODRIGUES, 1972: 144). Acontecimentos que resplandeciam por terras brasileiras enquanto reflexo da Revolução de Fevereiro que punha fim ao regime czarista na Rússia instalando um Governo Provisório sob responsabilidade do socialista Aleksandr Kerenski (1881-1970), etapa esta, antecedente ao putsch organizado por Vladimir Ilitch Ulianov (1870-1924), o conhecido Lênin e os bolchevistas, a partir de outubro de 1917, para implementar um plano político socialista de cariz centralizador e autoritário. Seja como for, “(...) em 1917, numerosos anarquistas não distinguiam claramente suas diferenças com o bolchevismo, vendo em Lênin um marxista-bakuninista”. (TRAGTENBERG, 1988: 91). Com base em tais acontecimentos em terras brasileiras, os anarco-sindicalistas5 em especial, passavam a criar organizações denominadas de maximistas6 ou comunistas. Como, “em Porto Alegre o ´Grupo Maximalista`, no Recife ´Círculo Maximalista` e a ´Liga Comunista Feminina` no Rio de Janeiro”.(CUBERO, 1997: 31).
No Brasil, a década de 19107, mas especialmente o ano de 1917 demarcava com furor as peculiaridades da Primeira República, principalmente em seus aspectos sociais, frente a carestia do custo de vida, quer na alimentação, moradia ou vestuário, agravada ainda mais pelo contexto de crise mundial ocasionada pela Primeira Guerra Mundial. Situação de penúria e instabilidade que fortemente perpassava as relações de trabalho, mediante longas jornadas de trabalho (14 e 16 horas), salários baixíssimos e desemprego, seguido da exploração do trabalho infantil e a desvalorização da mão-de-obra feminina, ainda como da limitação das liberdades individuais. Visando superar tal realidade inúmeras greves convulsionavam a década de 1910. Nesta senda:

A elevação do custo de vida, no ano de 1917, em especial dos produtos de primeira necessidade, fora usada com sagacidade política pelos militantes, durante o primeiro semestre, para sacudir as energias dos operários e desapertá-los da apatia. A ressonância dos seus discursos junto ao operariado apareceu na deflagração de greves, a partir do mês de maio, pressionando os patrões a atender as reivindicações de aumento salarial e de melhoria nas condições de trabalho das fábricas e oficinas. (...). A paralisação iniciada em maio pelos trabalhadores têxteis foi, aos poucos, ganhando a adesão de outras categorias e, a partir de junho, o movimento foi se agigantando. (LOPREATO, 2000: 33).

Segundo ainda registra Yara Aun Khoury,

O número dos grevistas continua a aumentar, não obstante os apelos das autoridades e o fato de uma parte dos estabelecimentos já ter concedido aumentos salariais. Entre 12 e 15 de julho o número de grevistas sobe a 45 000. (KHOURY, 1981: 24).

O Movimento grevista de 19178 daria forma ao Comitê de Defesa Proletária (CDP) constituído por militantes anarquistas e socialistas enquanto órgão organizador das reivindicações e instrumento de denúncia das arbitrariedades patronais e da truculência policial. Dando mostra da sua violência, no mês de julho um regimento policial - encorajado pelo governador do estado a tomarem medidas mais enérgicas -, abre fogo contra manifestantes de uma passeata, resultando na morte do sapateiro José Martinez, intensificando ainda mais o movimento grevista.
Para dar força a propaganda grevista e aos anseios revolucionários professados pelos libertários, era criado o periódico A Plebe9, que já pela escolha do seu nome revelava as pretensões anarquistas, de através de uma Greve Geral, como a que se equacionaria no transcurso de 1917, dar os primeiros passos rumo a Revolução Social, mediante “(...) à magnitude deste extraordinário momento histórico por que está atravessando a humanidade”. (KHOURY, 1981: 130). Escrevia assim, sobre os objetivos de A Plebe - o secretário do Comitê de Defesa Proletária (CDP) e jornalista libertário -, Edgard Leuenroth10 (1881 – 1968). Através de suas mãos nascia em junho de 1917 - em plena greve -, o referido jornal, tendo como um dos motes norteadores as insurreições que sacudiam a Rússia, desde fevereiro do corrente ano.
Não obstante:

A segunda metade de 1917 foi marcada por uma onda repressiva, em São Paulo e no Rio de Janeiro, contra as associações, inclusive com o fechamento da FORJ.11 Ainda que simbólica, a entrada do Brasil na guerra, em outubro, restringiu ainda mais o espaço de ação do movimento operário. Mas o movimento grevista em 1917 não ficou limitado a esses dois casos: no mês de julho, diversas greves foram desencadeadas na Paraíba e greves ferroviárias ocorreram no sul de Minas Gerais e no Rio Grande do Sul12 (e novamente em outubro, no caso desse último estado). (BATALHA, 2000: 52/ 53).

Em de 18 de novembro de 1918 - a partir de outra greve nascente -, as ruas do Rio de Janeiro tornaram-se o palco de uma Insurreição13, denominada por muitos de “O Soviete do Rio”, revolta que tinha como articuladores, os anarquistas. Através da força das armas, - às quais pode-se acrescentar bombas de dinamite - almejavam derrubar o governo, segundo ponderações canalizadas da Revolução Russa. Após insistente batalha, em que se acreditou ser possível a adesão de membros das Forças Armadas, - num episódio idealizado pela experiência russa - o levante anarquista, delatado de antemão pelo tenente infiltrado Jorge Elias Ajus, era sufocado, tendo como saldo, cerca de 78 anarquistas presos.
Tais anseios revolucionários lançavam-se como chave-mestra, rumo à constituição de novos horizontes, como pode ser notado no livro escrito em 1919 pelos anarco-sindicalistas Edgard Leuenroth, redator do periódico A Plebe e Hélio Negro,14 intitulado: O que é o maximismo ou o bolchevismo (programa comunista), onde encontramos: “O regime vigente na Rússia é uma organização de defesa e reconstrução, a caminho do almejado comunismo libertário, que trará para todos a paz, o bem-estar e a liberdade”(LEUENROTH; NEGRO, 1984: 9). E acrescentam: “No estado de miséria em que estão os povos de quase todo o mundo, só o Comunismo, como forma econômica de estrita solidariedade, pode salvar a humanidade da ruína completa”.(LEUENROTH; NEGRO, 1984: 20). Obra que surgia como uma proposta, um esboço de programa comunista para o Brasil, permeando os diversos setores estruturais da sociedade, segundo um trato comunista libertário. Para tanto, escrevem: “Vivemos um instante decisivo, que há de marcar um rumo novo a história da humanidade”(LEUENROTH; NEGRO, 1984: 45), assim, “Ligado ao resto do mundo pelos elos criados pela civilização, na interdependência de todas as nações, o povo do Brasil tem por força, por força da fatalidade histórica, de tomar parte na obra colossal de remodelação dos sistemas e métodos da vida individual e coletiva”.(LEUENROTH; NEGRO, 1984: 45). “Escrito apressadamente em abril de 1919, o panfleto O que é o Maximismo ou Bolchevismo reflete a confusão dos libertários brasileiros entre o sucesso da Revolução Russa e a conseqüente aceitação teórica de preceitos mais autoritários para consegui-la”. (MARAM, 1979: 81).
Em 1919, os anarquistas, ainda sob o frenesi da Revolução e instigados pela solidariedade internacional aos proletários russos, fundavam o Partido Comunista do Brasil, também denominado de Partido Comunista-Anarquista ou Partido Comunista Libertário tendo como diretrizes, “(...) a abolição do Estado, de todas as leis e instituições políticas, assim como de todas as organizações hierárquicas e autoritárias”.(DULLES, 1980: 80) Elementos estes que compunham o programa maximalista do Núcleo de São Paulo, publicado em 23 de agosto de 1919, no periódico anarquista A Plebe. Sendo oportuno lembrar que dentro das perspectivas anarquistas, comunismo (ou socialismo) e anarquismo eram denominações agrupáveis, desde que aparadas na defesa da liberdade e eximidas de atributos autoritários.
O Partido Comunista do Brasil contava com um segundo Núcleo instituído no Rio de Janeiro, valendo-se do jornal anarquista Spártacus15, surgido em 2 de agosto de 1919 como principal porta-voz da causa maximalista. Este periódico contaria em sua redação com proeminentes figuras do movimento libertário, tais como, José Oiticica (1882 – 1957)16 e Astrogildo Pereira (1890 – 1965).17 Nas páginas do Spártacus de autoria do dirigente bolchevista russo Lênin, publicou-se: “Mensagem de Lénine aos Trabalhadores Americanos”18 e “A Democracia Burguesa e a Democracia Proletária”19, assim como, do líder do Exército Vermelho Leon Trótski (1879-1940) o texto “Grande Época”20, pontuando as esperanças que parte dos libertários do Brasil depositavam na Revolução no Leste Europeu. Outrossim, no referido periódico José Oiticica pontuava “O movimento russo exemplificou admiravelmente quanto é fácil a transformação do regime capitalista firmado na base proletária”21. Desta forma:

Para os anarquistas, o grande evento na Rússia configurava, ao menos nos primeiros anos, a possibilidade de uma conjugação de esforços entre tendências revolucionárias nem sempre afinadas. As divergências em relação aos métodos do marxismo-leninismo passaram ao largo da imagem otimista presente nas primeiras notícias que chegaram ao Brasil. (SAMIS, 2002: 24).

Estes anseios que a tantos contagiava, instigaria o meio intelectual a se pronunciar, e para tanto, o autor de Policarpo Quaresma, Afonso Henriques de Lima Barreto (1881 – 1922), que não escondia seus vínculos libertários22, em 1918, publicava no semanário ABC seu Manifesto Maximalista, enquanto panfleto de apoio à Rússia revolucionária. No mesmo tem-se:

Se Kant, conforme a legenda, no mesmo dia em que a Bastilha, em Paris, foi tomada; se Kant, nesse dia, com estuporado assombro de toda a cidade de Koenigsberg, mudou o itinerário da excursão que, há muitos anos, fazia todas as manhãs, sempre e religiosamente pelo mesmo caminho – a comoção social maximalista tê-lo-ia hoje provocado a fazer o mesmo desvio imprevisto e surpreendente; e também a Goethe dizer, como quando, em Valmy viu os soldados da Revolução, mal ajambrados e armados, de tamancos muitos, descalços alguns, destroçarem os brilhantes regimentos prussianos – dizer, diante disto, como disse: “A face do mundo mudou”. Ave Rússia! (BARRETO, 1993: 375)

Tais utopias somente se dissipariam a partir de 1920, frente às denúncias de uma Revolução que tomava rumos autoritários. Notícias, que a primeira vista soavam em solo brasileiro como calúnias e deturpações de natureza propagandista burguesa, pouco a pouco não tardariam por apresentar um fundo de verdade. Revelando um comunismo de bases autoritárias incompatível com as premissas anarquistas de um modelo de comunismo libertário. Neste sentido, no início de 1920 através do periódico A Plebe o anarquista Florentino de Carvalho23, em artigo nominado “Falência do anarquismo?!”, ponderava:

Não é verdade que os anarquistas sejam partidários da ditadura, da lei, do Estado. Na Rússia, por exemplo, tanto não estão conformes com a ditadura do proletariado, que chegaram a sustentar, contra os maximalistas, verdadeiras batalhas nas ruas de Petrogrado e Moscou. (DULLES, 1980: 132).

Assim assinalando as distinções entre o pensamento e ação dos anarquistas e dos comunistas bolcheviques. Desse modo os primeiros professavam-se favoráveis a igualdade social e a liberdade, opondo-se a constituição de partidos políticos enquanto legítimos guias do ímpeto revolucionário, tal como da permanência do Estado nas relações sociais, enquanto os comunistas-marxistas creditavam sua força organizadora (de diretriz única) nas demandas equacionadas por um partido dirigente, valendo-se da conservação de um Estado de base popular que via “ditadura do proletariado” garantiria o sucesso de um modelo econômico que acabaria de vez com a desigualdade social. Orientações que gradativamente sinalizariam perspectivas adversas entre os anarquistas (alimentados por utopias de um comunismo libertário) e a desenvoltura de uma Rússia de aspirações bolchevistas (sedimentada no comunismo autoritário).
Através de seu próprio semanário intitulado A Obra24, que ganhava forma a partir maio de 1920, Florentino de Carvalho munido de sua visão antibolchevista advertia:

Contudo, se, em oposição ás calunias dos burgueses, divulgamos a obra benefica de república russa, nunca fizemos a apologia desse regime, porque demasiado sabiamos que o Estado, qualquer que seja a sua estrutura autoritária ou governamental é essencialmente contrário aos nossos princípios. Sempre mantivemos sobre este assunto as devidas reservas, esperando ser ilustrados por documentos aos quais pudessemos confiar.
Agora, porém, de posse desses documentos, cumpre-nos esclarecer a situação, principalmente e porque, havendo no Rio alguns libertários militantes que tomam a nuvem por Juno, isto é confundem a revolução russa com o Estado burocrático e militarista ali estabelecido, chegando a propagar a organização de um partido socialista-maximalista, o qual teria por fim, entre outras coisas, a conquista do Estado burguês, empregando o processo eleitoral, transformando-o em Estado maximalista (...). (A OBRA, nº 13: 15 de setembro de 1920).

Este escrito reportava-se aos militantes agrupados em torno do Partido Comunista do Brasil criado em 1919 no Rio de Janeiro por anarquistas, e aos propagandistas do jornal Spártacus, o principal instrumento de propaganda do grupo. No transcurso de sua escrita Florentino ainda destaca a necessidade de findar com toda pretensão política estatal, quer de direita, quer de esquerda, entendendo que mesmo a defesa de um Estado travestido de maximalista, incorreria num ato de “traição da causa da emancipação humana”.
Ainda nas páginas de A Obra, encontra-se um texto intitulado “Definindo princípios. O sindicalismo não é marxista. A ditadura do proletariado, clausula capital do marxismo, não é a finalidade do sindicalismo”, em que o autor25 (possivelmente um militante anarco-sindicalista) ataca o bolchevismo, figurado por ele como “modismo”, devido a sedução que teria causado em vários amigos militantes, buscando converter o sindicalismo revolucionário em uma simples modalidade do socialismo marxista. Insurgência possivelmente decorrente da gama propagandista de verve bolchevista e do teor desordenado de algumas matérias vinculadas no periódico Spártacus tais como esta: “Chama-te então o que quiseres, - bolchevista, sovietista, anarquista, sindicalista, rebelde, revoltado, maximalista, - és um camarada, és um irmão”26. (SPÁRTACUS, nº 18: 29 de novembro de 1919).
Desta forma, reportando-se a um contexto de incertezas que figurava no meio operário e libertário no Brasil do começo do século XX, o ex-anarquista Astrogildo Pereira, em depoimento expunha: “O que não se sabia ao certo é que os comunistas que se achavam à frente da revolução russa eram marxistas e não anarquistas. Só mais tarde estas diferenças se esclareceram, produzindo rupturas entre os anarquistas”.(BANDEIRA, 1967: 159).
Contundentes notícias sobre o assassinato de socialistas e anarquistas, e das vilanias praticadas pelo Exército Vermelho de Trótski sobre o movimento libertário Makhnovista (ao final de 1920) na Ucrânia,27 ainda como, contra os marinheiros insurgentes de Kronstadt28 (no começo de 1921) multiplicavam-se, trazendo consigo manifestações contra o Estado Soviético e os bolchevistas em terras brasileiras.

Dilemas de intenções e tensões que produziriam no movimento anarquista brasileiro, cisões, remodelando o cenário das lutas operárias, principalmente com a criação em 1922 do Partido Comunista do Brasil (PCB) - órgão oficial bolchevista - por ex-anarquistas, a partir do programa proposto em 1921 por um emissário bolchevista29 a serviço do comunismo russo. Fomentando duelos de forças entre anarquistas e comunistas, mediante os horizontes de transformação da sociedade capitalista industrial, que se perpetuaria de forma mais persistente durante as primeiras décadas do século XX.


* Mestre em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
1 Notas

1 A Rússia já bastante desgastada pelos anos de batalha, retirava-se do conflito mediante a Revolução Socialista que se desenvolvia em seu país no transcurso de 1917, neste mesmo ano os EUA declaravam guerra a Alemanha, dando equilíbrio a Tríplice Entente, assim como garantindo o retorno de seus investimentos, configurados em empréstimos financeiros.
2 Comunidade agrária na Ucrânia em que os camponeses liderados por Nestor Makhno, socializaram as terras segundo os princípios libertários.
3 Filho de camponeses pobres do sul da Ucrânia, foi um hábil revolucionário envolvido em atentados e ações expropriadoras contra ricos proprietários, entre 1905 e 1908. Preso em 1908 é condenado a trabalhos forçados, porém com os acontecimentos de 1917 que convulsionam a Rússia, recuperava sua liberdade, retornado a região de Goulai-Polé (sua terra natal), onde organiza uma guerrilha popular e revolucionária, conhecida como Movimento Makhnovista. No Brasil publicou-se de Nestor Makhno as seguintes coletâneas de textos: A “Revolução” contra a Revolução. A Revolução Russa na Ucrânia (março 1917 – abril 1918). São Paulo: Cortez, 1988; Anarquia & Organização: plataforma de organização e outros escritos. São Paulo: Luta Libertária, s/d. Ainda sobre Nestor Makhno e o Movimento Makhnovista tem-se: ARCHINOV, Piotr. História do Movimento Makhnovista. Lisboa: Assírio & Alvim, 1976; BERKMAN, Alexandre, et al. A Revolução Social na Ucrânia. São Paulo: Imaginário, 2001.
4 Compunham o denominado Exército Branco, eram partidários do Antigo Regime tzarista, responsáveis pelo processo que ficaria conhecido como Contra-Revolução.
5 Grupo que depositava os anseios de Revolução no projetar de uma Greve Geral expropriadora da burguesia.
6 Adeptos do programa máximo do partido socialista russo. Acerca do uso do termo maximalista corriqueiramente utilizado Edgard Leuenroth em O que é maximismo ou o bolchevismo reitera: “`Maximalismo` , ´Bolshevikismo´, etc. são idiotismos que tiveram origem na tradução do idioma russo para o inglês e deste para o português”. p. 7.
7 Os primeiros meses de 1913 seriam marcados por Campanhas Contra a Carestia da Vida, organizadas pela Federação Operária do Rio de Janeiro (FORJ) e pela Confederação Operária Brasileira (COB), enquanto protesto frente ao aumento abusivo dos gêneros de primeira necessidade, tais agitações abarcaram os Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
8 Movimento que dava os primeiros passos em meados de junho, através de trabalhadores da indústria têxtil Cotonifício Crespi, na Moóca, e que no transcurso de julho foi ganhando mais adeptos, deflagrando uma Greve Geral por três dias. Sobre tais acontecimentos destacamos um importante relato agregado a obra: BEIGUELMAN, Paula. Os companheiros de São Paulo. 2ª ed. São Paulo: Global, 1981.
9 Importante jornal anarquista surgido em 1917 em São Paulo, pelas mãos do jornalista libertário Edgard Leuenroth. A Plebe um dos mais duradouros jornais anarquistas no Brasil, perdurou até 1949 (tendo uma trajetória marcada por interrupções), sendo o mesmo um “momentâneo” substituto do periódico anticlerical A Lanterna, que interrompia suas atividades em 1916 (reaparecendo em 1933).
10 Importante militante anarquista envolvido na desenvoltura de diversos jornais anarquistas, entre os quais A Terra Livre, A Lanterna, A Plebe, A Vanguarda, Ação Direta, fora um dos fundadores da Federação Operária de São Paulo (1905) tendo participado da organização do Primeiro, Segundo e Terceiro Congressos Operários Brasileiros, ainda através de suas mãos ganhava forma um dos mais importantes arquivos sobre as lutas sociais no Brasil, hoje sob responsabilidade da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Da autoria de Leuenroth publicou-se: Anarquismo: roteiro da libertação social. Rio de Janeiro: Mundo Livre, 1963 (re-editado em 2007 pela editora Achiamé); A organização dos jornalistas brasileiros (1908-1951). São Paulo: COM-ARTE, 1987. Outrossim, publicou-se uma pequena e interessante biografia sobre este combatente da liberdade na coleção Rebeldes Brasileiros fascículo 7, da revista Caros Amigos.
11 Sigla da Federação Operária do Rio de Janeiro. Acerca da trajetória de lutas desta instituição consultar: NETO, Oscar Farinha. Atuação Libertária no Brasil. A Federação Anarco-Sindicalista. Rio de Janeiro: Achiamé, s/d.
12 Alguns autores mencionam ainda a constituição de greves no ano de 1917 nos estados de Rio de Janeiro, Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraná e Santa Catarina.
13 Sobre este episódio existe o importante trabalho de ADDOR, Carlos Augusto. A Insurreição Anarquista no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Dois Pontos, 1986.
14 Pseudônimo de Antonio Candeias Duarte.
15 Periódico surgido no Rio de Janeiro em 2 de agosto de 1919, pela iniciava de Salvador Alacid, José Oiticica e Astrogildo Pereira, duraria somente até o começo de 1920, sendo substituído pelo jornal Voz do Povo.
16 José Rodrigues Leite e Oiticica, professor e anarquista que atuou na Liga Anticlerical do Rio de Janeiro, e organizou periódicos, como Ação Direta, A Vida, Na Barricada entre outros. Autor da obra A doutrina anarquista ao alcance de todos. 3ª ed. São Paulo: Econômica editorial, 1983. Pela já extinta editora Germinal do Rio de Janeiro que pertenceu ao libertário Roberto das Neves, seriam publicados duas coletâneas de textos de José Oiticica, primeiro Curso de Literatura (1960) contendo texto sobre lingüística publicados originalmente no jornal anarquista Ação Direta, e depois Ação Direta: antolologia dos melhores artigos publicados na imprensa brasileira – meio século de pregação libertária (1970), esta obra trás textos publicados em vários jornais do país, com grande suporte de artigos extraídos das páginas do Ação Direta.
17 Anarquista que extasiado pela Revolução Russa abandonaria o ideal ácrata convertendo-se ao comunismo, foi um dos criadores do PCB, enquanto partido oficial bolchevista, em 1922.
18 Spártacus. Rio de Janeiro, nº 1, 2 de agosto de 1919.
19 Spártacus. Rio de Janeiro, nº 15, 8 de novembro de 1919.
20 Spártacus. Rio de Janeiro, nº 10, 4 de outubro de 1919.
21 Spártacus. Rio de Janeiro, nº 15, 8 de novembro de 1919. Fragmento de um texto intitulado “A Revolução Russa”.
22 Valendo-se do pseudônimo Izaias Caminha, escreve ao jornal sindicalista revolucionário do Rio de Janeiro A Voz do Trabalhador, órgão da Confederação Operária Brasileira (COB), datado de 15 de maio de 1913, um artigo intitulado “Palavras de ´snob` anarquista”. Sobre os vínculos libertários de Lima Barreto ver o texto de: MONTENEGRO, José Benjamin. Lima Barreto: escritor negro e anarquista. In: DEMINICIS, Rafael Borges & FILHO, Daniel Aarão Reis (Org.). História do Anarquismo no Brasil – Vol. 1. Niterói: UFF; Rio de Janeiro: Mauad, 2006.
23 Pseudônimo adotado por Primitivo Raymundo Soares. Acerca da trajetória política deste libertário consultar: NASCIMENTO, Rogério H. Z. Florentino de Carvalho – pensamento social de um anarquista. Rio de Janeiro: Achiamé, 2000.
24 Periódico surgido em 1 de maio de 1920, e que sucumbiria ao final do mesmo ano.
25 Texto assinado por Arnaldo Danel.
26 Artigo de Manuel Ribeiro, intitulado “Definições: Bolchevismo, Anarquismo, Sindicalismo ...”.
27 O Exército Vermelho metralharia no final de 1920 (no istmo de Perekop) o exército makhnovista que regressava vitorioso do combate as tropas contra-revolucionárias de Wrangel. Nestor Makhno sobrevive, partindo em 1921 ao exílio.
28 Sublevação de marinheiros que contagiados pelo ideal libertário exigiam completa autonomia dos Sovietes (Conselhos) frente ao poder do Partido e do Estado, valendo-se da premissa dos primeiros tempos da Revolução: “Todo o poder aos sovietes”. Sobre tal acontecimento tem-se duas importantes de obras referência: ARVON, Henri. A Revolta de Kronstadt. São Paulo: Brasiliense, 1984; ROCKER, Rudolf. Os sovietes traídos pelos bolcheviques. São Paulo: Hedra, 2007.
29 Segundo Edgar Rodrigues em sua obra Nacionalismo & Cultura Social (1972) o nome do emissário era Ramison Soubiroff, o mesmo a principio teria procurado em São Paulo por Edgard Leuenroth, acreditando ser o mesmo a pessoal ideal para a fundação de um Partido Comunista oficial no Brasil, negando o convite, Leuenroth a pedido de Soubiroff que ansiava pela indicação de outro militante político, sugestiona a pessoa de Astrogildo Pereira que atuava no Rio de Janeiro, e que acabaria por não exitar em aceitar tal incumbência, nascendo assim em 1922 o PCB via 11 ex-anarquistas e um socialista, enquanto órgão de propagação bolchevista amparado em diretrizes soviéticas.




Bibliografia

ADDOR, Carlos Augusto. A Insurreição Anarquista no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Dois Pontos, 1986.

ARCHINOV, Piotr. História do Movimento Makhnovista. Lisboa: Assírio & Alvim, 1976.

ARVON, Henri. A Revolta de Kronstadt. São Paulo: Brasiliense, 1984.

BANDEIRA, Moniz, et al. O Ano Vermelho. A Revolução Russa e seus reflexos no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.

BARRETO, Lima. Um longo sonho do futuro. Diários, cartas, entrevistas e confissões dispersas. Rio de Janeiro: Graphia, 1993.

BATALHA, Claudio. O movimento operário na Primeira República. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

BEIGUELMAN, Paula. Os companheiros de São Paulo. 2ª ed. São Paulo: Global, 1981.

BERKMAN, Alexandre, et al. A Revolução Social na Ucrânia. São Paulo: Imaginário, 2001.

CAMPOS, Cristina Hebling. O sonhar libertário. Movimento operário nos anos de 1917 a 1921. Campinas: Pontes/ Unicamp, 1988.

CUBERO, Jaime. Reflexos da Revolução Russa no Brasil. Libertárias – Revista Bimestral de Cultura Libertária. São Paulo, nº 1, Outubro/ Novembro de 1997.

DULLES, John W. F. Anarquistas e Comunistas no Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

KHOURY, Yara Aun. As greves de 1917 em São Paulo. São Paulo: Cortez/ Autores Associados, 1981.

LEUENROTH, Edgard & NEGRO, Hélio. O que é maximismo ou o bolchevismo. São Paulo: Semente, 1984.

LEUENROTH, Edgard. Anarquismo: roteiro da libertação social. Rio de Janeiro: Mundo Livre, 1963.

________ . A organização dos jornalistas brasileiros (1908-1951). São Paulo: COM-ARTE, 1987.

LOPREATO, Christina Roquette. O espírito da revolta: a greve geral anarquista de 1917. São Paulo: Annablume, 2000.

MAKHNO, Nestor. A “Revolução” contra a Revolução. A Revolução Russa na Ucrânia (março 1917 – abril 1918). São Paulo: Cortez, 1988.

________ . Anarquia & Organização: plataforma de organização e outros escritos. São Paulo: Luta Libertária, s/d.

MARAM, Sheldon Leslie. Anarquistas, imigrantes e o movimento operário brasileiro (1890-1920). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

MONTENEGRO, José Benjamin. Lima Barreto: escritor negro e anarquista. In: DEMINICIS, Rafael Borges & FILHO, Daniel Aarão Reis (Org.). História do Anarquismo no Brasil – Vol. 1. Niterói: UFF; Rio de Janeiro: Mauad, 2006.

NASCIMENTO, Rogério H. Z. Florentino de Carvalho – pensamento social de um anarquista. Rio de Janeiro: Achiamé, 2000.

NETO, Oscar Farinha. Atuação Libertária no Brasil. A Federação Anarco-Sindicalista. Rio de Janeiro: Achiamé, s/d.

OITICICA, José. A doutrina anarquista ao alcance de todos. 3ª ed. São Paulo: Econômica editorial, 1983.

________ . Curso de Literatura. Rio de Janeiro: Germinal, 1960.

________ . Ação Direta. Antologia dos melhores artigos publicados na imprensa brasileira – meio século de pregação libertária. Rio de Janeiro: Germinal, 1970.

ROCKER, Rudolf. Os sovietes traídos pelos bolcheviques. São Paulo: Hedra, 2007.

RODRIGUES, Edgar. Nacionalismo & Cultura Social. Rio de Janeiro: Laemmert, 1972.

SAMIS, Alexandre. Ecos da Revolução Russa no Brasil. Libertários – Revista Trimestral de Expressão Anarquista. São Paulo – Rio de Janeiro, nº 1, 3º trimestre de 2002.

TRAGTENBERG, Maurício. A Revolução Russa. São Paulo: Atual, 1988.

VOLIN. A Revolução Desconhecida. Vol. 1 – Nascimento, crescimento e triunfo da Revolução Russa (1825-1917). São Paulo: Global, 1980.

Jornais e fascículos:

A Obra. São Paulo, 1920.

A Voz do Trabalhador. Rio de Janeiro, 1913.

Spártacus. Rio de Janeiro, 1919.

Rebeldes Brasileiros - fascículo 7, (Revista Caros Amigos) s/d.