sexta-feira, 15 de julho de 2011

A Greve e os Anarquistas

***Algumas considerações sobre a Greve do Magistério em Santa Catarina - 2011***

O moribundo político, nascido Raimundo, bradava às emissoras de TV de S. Catarina que a Greve do Magistério tornava-se a partir da Assembléia Estadual, ocorrida no dia 06/07 em uma greve política, alimentada por anarquistas. E por mais que em seu vazio discurso tenha aventado o emprego do termo anarquista, num sentido pejorativo, tal dispositivo lingüístico, instiga-nos uma gama de reflexões subversivas
Germinado no século 19, na Europa, o anarquismo enquanto ideologia e movimento político propunha uma transformação radical da sociedade, a qual através de uma revolução social poria fim ao capitalismo, ao Estado e a divisão social em classes (estigmatizada por exploradores e explorados), para do caos e das cinzas pós revolução reerguer uma nova sociedade organizada de forma horizontal (via federalismo libertário), alimentada pela autogestão, pela ânsia de liberdade (cingida pela responsabilidade) e pela ordem natural das coisas, expressa pela máxima: "a cada um o que lhe cabe". Desta forma, o anarquista italiano Errico Malatesta (1853-1932), ponderava: “como todos os animais, o homem adapta-se, habitua-se às condições nas quais vive, e transmite por hereditariedade os hábitos adquiridos. Nascido e vivendo na escravidão, herdeiro de uma longa linhagem de escravos, o homem, quando começou a pensar, acreditou que a escravidão fosse uma condição essencial da vida: a liberdade pareceu-lhe impossível. É assim que o trabalhador coagido há séculos a esperar trabalho, isto é, o pão, do bel-prazer de um amo, habituado a ver sua vida continuamente à mercê daquele que possui terra e capital, acabou por crer que é o patrão que lhe dá de comer; ingênuo, ele se diz: o que faria para viver se os amos não existissem?”. Todavia, esse “fantasma dos natais passados”, ainda aliena levas de trabalhadores, que constantemente (e insistentemente) almejam a perpetuidade de uma sociedade regida por amos.
Faz-se propício ainda lembrar, que a Educação teve (e tem) um papel crucial no seio do anarquismo, suscitando “um fortíssimo interesse por parte dos anarquistas, conscientes de que a personalidade do indivíduo, sua psicologia e seu senso ético começam a modelar-se nos primeiros anos de sua vida” , levando a criação e aplicação de uma pedagogia libertária, com plausíveis resultados, a exemplo da Escola Paidéia, na Espanha e a Escola da Ponte, em Portugal, calcadas no princípio “somos todos diferentes uns dos outros, inclusive pelo interesse em conhecer”. Diferindo das políticas estatais padronizadoras, regida por governos que tornaram a educação e as escolas em moeda de barganha, para fins partidários, alimentada pela voraz ânsia de prestigio e poder.
Mas, se a greve do magistério de S. Catarina fosse uma sublevação de feições anarquistas - e quem dera que de fato fosse -, além da busca por justiça, bandeiras pelo fim do Estado (este instrumento nefasto de dominação), dos governos (até lá vista Rei-Mundo e demais chacais), dos partidos políticos, teriam sido erguidas sob as asas da utopia revolucionária, como séculos atrás, quando diversas greves sacudiram a monotonia de governantes e patrões no Brasil da Primeira República, numa época em que o anarco-sindicalismo se fazia forte e presente. Nesses termos, o jornalista, gráfico e anarquista Edgard Leuenroth (1881-1968), envolvido no movimento da Greve Geral de 1917, escreveu: “mediante criterioso e perseverante trabalho de educação – pessoal e coletivo – desenvolvido pelos libertários [anarquistas], foram os trabalhadores adquirindo a convicção de que os seus males são oriundos de uma injustiça social que os obriga a produzir não em seu proveito e da coletividade, mas sim do explorador de seu esforço – o capitalista”. Porém, as mobilizações anarquistas, não são histórias apenas de um passado remoto, prova disso é a atuação anarquista em Atenas - que entre urros de morte ao governo e ao capital! -, tem recentemente incendiado o cenário político na Grécia, contra a austeridade estatal.
Por sua vez, onde estão os ímpetos revolucionários, de diversos trabalhadores e representantes sindicais, da educação de S. Catarina que invocam o mantra: “professores voltem para as salas de aula”!? E frente a tal situação, reflexões políticas de verve anárquica se fazem pertinentes, sobretudo, acerca da possibilidade de organizações autônomas e libertárias, rumo a projeção de um sindicalismo revolucionário /combatente, que seja parte integral do processo educativo, na contramão de um sindicalismo conciliatório (peleguista), que coloca acima dos interesses de classe, suas pretensões político partidárias.
E se somos educadores de direito e de fato, sabemos melhor do que ninguém, que uma sociedade que lança para os subterrâneos suas políticas educacionais, cava assombrosamente a própria cova, martelando o último prego no seu caixão. Por essas e por outras, é hora de acordar do sono torpe: “uma sociedade não pode viver assim; ou regressa à verdade ou desaparece” , tragada pelo abismo da hipocrisia e sua consorte, a violência. Dito isto: até quando deixaremos nas mãos de outrem o resultado do nosso destino?!

Proffy, o Insurgente.
S. Catarina, 2011.

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