sábado, 25 de abril de 2009

Utopias Anarquistas no Frenesi da Revolução Russa





Utopias Anarquistas no Frenesi da Revolução Russa
Experiências e anseios do movimento libertário brasileiro


Cleber Rudy*

Enquanto o Front ainda ardia, nas entranhas da Primeira Grande Guerra, o ano de 1917 – um marco ofegante do mundo contemporâneo - imprimia seus limiares ao conflito mundial,1 via os precedentes de um outro grande acontecimento: a Revolução Russa no Leste Europeu. A qual nascia “(...) da impossibilidade, para o povo, de continuar a guerra e de arrastar uma existência de fome (...) e da obstinação cega do tzarismo (...)”. (VOLIN, 1980: 123). E concomitantemente a tais convulsões políticas mundiais, no Brasil resplandeciam greves gerais e insurreições, ambicionando a expropriação do universo capitalista industrial, segundo perspectivas anarquistas que marcariam os signos de uma década (1910) que caminhava para o fim de forma explosiva. Para tanto, “na conjuntura crítica de 1917, o proletariado, como mão-de-obra superexplorada, ensaia suas aspirações emancipadoras num regime no qual prevalece a força absoluta da burguesia (...)”. (KHOURY, 1981: 16).
Diante da Revolução proletária que se lançava como uma outra possibilidade de organização social em prol da igualdade e pelo fim do capitalismo, ímpetos de transformação trazidos pelos ventos russos contagiavam os anseios de agrupamentos socialistas e anarquistas em solo brasileiro. E neste sentido, “As influências de toda uma mobilização que crescia em nome da fé na Revolução Social foram marcantes, assinalando no Brasil uma preocupação crescente com a questão social tanto da parte dos operários, quanto da burguesia e do Estado” (CAMPOS, 1988: 38).
Para os anarquistas do Brasil as histórias de uma revolução social levada a cabo por libertários na Ucrânia, na aldeia de Gulai-Pole2 – organizada por um camponês-anarquista, de nome Nestor Makhno (1889 – 1934)3 -, e as posteriores conquistas do Movimento Makhonovista frente às tropas de Wrangel e Denikin,4 instigavam a projeção revolucionária de uma Rússia libertária, alimentando a aurora de tempos novos também no Brasil.
Desta forma, “[...] A Federação Operária do Rio de Janeiro organiza manifestações públicas para o dia 1º de maio de 1917. Entre os temas a serem tratados e apreciados, estavam os combates à Guerra, o custo de vida e o pronunciamento público a favor da Revolução Russa”.(RODRIGUES, 1972: 144). Acontecimentos que resplandeciam por terras brasileiras enquanto reflexo da Revolução de Fevereiro que punha fim ao regime czarista na Rússia instalando um Governo Provisório sob responsabilidade do socialista Aleksandr Kerenski (1881-1970), etapa esta, antecedente ao putsch organizado por Vladimir Ilitch Ulianov (1870-1924), o conhecido Lênin e os bolchevistas, a partir de outubro de 1917, para implementar um plano político socialista de cariz centralizador e autoritário. Seja como for, “(...) em 1917, numerosos anarquistas não distinguiam claramente suas diferenças com o bolchevismo, vendo em Lênin um marxista-bakuninista”. (TRAGTENBERG, 1988: 91). Com base em tais acontecimentos em terras brasileiras, os anarco-sindicalistas5 em especial, passavam a criar organizações denominadas de maximistas6 ou comunistas. Como, “em Porto Alegre o ´Grupo Maximalista`, no Recife ´Círculo Maximalista` e a ´Liga Comunista Feminina` no Rio de Janeiro”.(CUBERO, 1997: 31).
No Brasil, a década de 19107, mas especialmente o ano de 1917 demarcava com furor as peculiaridades da Primeira República, principalmente em seus aspectos sociais, frente a carestia do custo de vida, quer na alimentação, moradia ou vestuário, agravada ainda mais pelo contexto de crise mundial ocasionada pela Primeira Guerra Mundial. Situação de penúria e instabilidade que fortemente perpassava as relações de trabalho, mediante longas jornadas de trabalho (14 e 16 horas), salários baixíssimos e desemprego, seguido da exploração do trabalho infantil e a desvalorização da mão-de-obra feminina, ainda como da limitação das liberdades individuais. Visando superar tal realidade inúmeras greves convulsionavam a década de 1910. Nesta senda:

A elevação do custo de vida, no ano de 1917, em especial dos produtos de primeira necessidade, fora usada com sagacidade política pelos militantes, durante o primeiro semestre, para sacudir as energias dos operários e desapertá-los da apatia. A ressonância dos seus discursos junto ao operariado apareceu na deflagração de greves, a partir do mês de maio, pressionando os patrões a atender as reivindicações de aumento salarial e de melhoria nas condições de trabalho das fábricas e oficinas. (...). A paralisação iniciada em maio pelos trabalhadores têxteis foi, aos poucos, ganhando a adesão de outras categorias e, a partir de junho, o movimento foi se agigantando. (LOPREATO, 2000: 33).

Segundo ainda registra Yara Aun Khoury,

O número dos grevistas continua a aumentar, não obstante os apelos das autoridades e o fato de uma parte dos estabelecimentos já ter concedido aumentos salariais. Entre 12 e 15 de julho o número de grevistas sobe a 45 000. (KHOURY, 1981: 24).

O Movimento grevista de 19178 daria forma ao Comitê de Defesa Proletária (CDP) constituído por militantes anarquistas e socialistas enquanto órgão organizador das reivindicações e instrumento de denúncia das arbitrariedades patronais e da truculência policial. Dando mostra da sua violência, no mês de julho um regimento policial - encorajado pelo governador do estado a tomarem medidas mais enérgicas -, abre fogo contra manifestantes de uma passeata, resultando na morte do sapateiro José Martinez, intensificando ainda mais o movimento grevista.
Para dar força a propaganda grevista e aos anseios revolucionários professados pelos libertários, era criado o periódico A Plebe9, que já pela escolha do seu nome revelava as pretensões anarquistas, de através de uma Greve Geral, como a que se equacionaria no transcurso de 1917, dar os primeiros passos rumo a Revolução Social, mediante “(...) à magnitude deste extraordinário momento histórico por que está atravessando a humanidade”. (KHOURY, 1981: 130). Escrevia assim, sobre os objetivos de A Plebe - o secretário do Comitê de Defesa Proletária (CDP) e jornalista libertário -, Edgard Leuenroth10 (1881 – 1968). Através de suas mãos nascia em junho de 1917 - em plena greve -, o referido jornal, tendo como um dos motes norteadores as insurreições que sacudiam a Rússia, desde fevereiro do corrente ano.
Não obstante:

A segunda metade de 1917 foi marcada por uma onda repressiva, em São Paulo e no Rio de Janeiro, contra as associações, inclusive com o fechamento da FORJ.11 Ainda que simbólica, a entrada do Brasil na guerra, em outubro, restringiu ainda mais o espaço de ação do movimento operário. Mas o movimento grevista em 1917 não ficou limitado a esses dois casos: no mês de julho, diversas greves foram desencadeadas na Paraíba e greves ferroviárias ocorreram no sul de Minas Gerais e no Rio Grande do Sul12 (e novamente em outubro, no caso desse último estado). (BATALHA, 2000: 52/ 53).

Em de 18 de novembro de 1918 - a partir de outra greve nascente -, as ruas do Rio de Janeiro tornaram-se o palco de uma Insurreição13, denominada por muitos de “O Soviete do Rio”, revolta que tinha como articuladores, os anarquistas. Através da força das armas, - às quais pode-se acrescentar bombas de dinamite - almejavam derrubar o governo, segundo ponderações canalizadas da Revolução Russa. Após insistente batalha, em que se acreditou ser possível a adesão de membros das Forças Armadas, - num episódio idealizado pela experiência russa - o levante anarquista, delatado de antemão pelo tenente infiltrado Jorge Elias Ajus, era sufocado, tendo como saldo, cerca de 78 anarquistas presos.
Tais anseios revolucionários lançavam-se como chave-mestra, rumo à constituição de novos horizontes, como pode ser notado no livro escrito em 1919 pelos anarco-sindicalistas Edgard Leuenroth, redator do periódico A Plebe e Hélio Negro,14 intitulado: O que é o maximismo ou o bolchevismo (programa comunista), onde encontramos: “O regime vigente na Rússia é uma organização de defesa e reconstrução, a caminho do almejado comunismo libertário, que trará para todos a paz, o bem-estar e a liberdade”(LEUENROTH; NEGRO, 1984: 9). E acrescentam: “No estado de miséria em que estão os povos de quase todo o mundo, só o Comunismo, como forma econômica de estrita solidariedade, pode salvar a humanidade da ruína completa”.(LEUENROTH; NEGRO, 1984: 20). Obra que surgia como uma proposta, um esboço de programa comunista para o Brasil, permeando os diversos setores estruturais da sociedade, segundo um trato comunista libertário. Para tanto, escrevem: “Vivemos um instante decisivo, que há de marcar um rumo novo a história da humanidade”(LEUENROTH; NEGRO, 1984: 45), assim, “Ligado ao resto do mundo pelos elos criados pela civilização, na interdependência de todas as nações, o povo do Brasil tem por força, por força da fatalidade histórica, de tomar parte na obra colossal de remodelação dos sistemas e métodos da vida individual e coletiva”.(LEUENROTH; NEGRO, 1984: 45). “Escrito apressadamente em abril de 1919, o panfleto O que é o Maximismo ou Bolchevismo reflete a confusão dos libertários brasileiros entre o sucesso da Revolução Russa e a conseqüente aceitação teórica de preceitos mais autoritários para consegui-la”. (MARAM, 1979: 81).
Em 1919, os anarquistas, ainda sob o frenesi da Revolução e instigados pela solidariedade internacional aos proletários russos, fundavam o Partido Comunista do Brasil, também denominado de Partido Comunista-Anarquista ou Partido Comunista Libertário tendo como diretrizes, “(...) a abolição do Estado, de todas as leis e instituições políticas, assim como de todas as organizações hierárquicas e autoritárias”.(DULLES, 1980: 80) Elementos estes que compunham o programa maximalista do Núcleo de São Paulo, publicado em 23 de agosto de 1919, no periódico anarquista A Plebe. Sendo oportuno lembrar que dentro das perspectivas anarquistas, comunismo (ou socialismo) e anarquismo eram denominações agrupáveis, desde que aparadas na defesa da liberdade e eximidas de atributos autoritários.
O Partido Comunista do Brasil contava com um segundo Núcleo instituído no Rio de Janeiro, valendo-se do jornal anarquista Spártacus15, surgido em 2 de agosto de 1919 como principal porta-voz da causa maximalista. Este periódico contaria em sua redação com proeminentes figuras do movimento libertário, tais como, José Oiticica (1882 – 1957)16 e Astrogildo Pereira (1890 – 1965).17 Nas páginas do Spártacus de autoria do dirigente bolchevista russo Lênin, publicou-se: “Mensagem de Lénine aos Trabalhadores Americanos”18 e “A Democracia Burguesa e a Democracia Proletária”19, assim como, do líder do Exército Vermelho Leon Trótski (1879-1940) o texto “Grande Época”20, pontuando as esperanças que parte dos libertários do Brasil depositavam na Revolução no Leste Europeu. Outrossim, no referido periódico José Oiticica pontuava “O movimento russo exemplificou admiravelmente quanto é fácil a transformação do regime capitalista firmado na base proletária”21. Desta forma:

Para os anarquistas, o grande evento na Rússia configurava, ao menos nos primeiros anos, a possibilidade de uma conjugação de esforços entre tendências revolucionárias nem sempre afinadas. As divergências em relação aos métodos do marxismo-leninismo passaram ao largo da imagem otimista presente nas primeiras notícias que chegaram ao Brasil. (SAMIS, 2002: 24).

Estes anseios que a tantos contagiava, instigaria o meio intelectual a se pronunciar, e para tanto, o autor de Policarpo Quaresma, Afonso Henriques de Lima Barreto (1881 – 1922), que não escondia seus vínculos libertários22, em 1918, publicava no semanário ABC seu Manifesto Maximalista, enquanto panfleto de apoio à Rússia revolucionária. No mesmo tem-se:

Se Kant, conforme a legenda, no mesmo dia em que a Bastilha, em Paris, foi tomada; se Kant, nesse dia, com estuporado assombro de toda a cidade de Koenigsberg, mudou o itinerário da excursão que, há muitos anos, fazia todas as manhãs, sempre e religiosamente pelo mesmo caminho – a comoção social maximalista tê-lo-ia hoje provocado a fazer o mesmo desvio imprevisto e surpreendente; e também a Goethe dizer, como quando, em Valmy viu os soldados da Revolução, mal ajambrados e armados, de tamancos muitos, descalços alguns, destroçarem os brilhantes regimentos prussianos – dizer, diante disto, como disse: “A face do mundo mudou”. Ave Rússia! (BARRETO, 1993: 375)

Tais utopias somente se dissipariam a partir de 1920, frente às denúncias de uma Revolução que tomava rumos autoritários. Notícias, que a primeira vista soavam em solo brasileiro como calúnias e deturpações de natureza propagandista burguesa, pouco a pouco não tardariam por apresentar um fundo de verdade. Revelando um comunismo de bases autoritárias incompatível com as premissas anarquistas de um modelo de comunismo libertário. Neste sentido, no início de 1920 através do periódico A Plebe o anarquista Florentino de Carvalho23, em artigo nominado “Falência do anarquismo?!”, ponderava:

Não é verdade que os anarquistas sejam partidários da ditadura, da lei, do Estado. Na Rússia, por exemplo, tanto não estão conformes com a ditadura do proletariado, que chegaram a sustentar, contra os maximalistas, verdadeiras batalhas nas ruas de Petrogrado e Moscou. (DULLES, 1980: 132).

Assim assinalando as distinções entre o pensamento e ação dos anarquistas e dos comunistas bolcheviques. Desse modo os primeiros professavam-se favoráveis a igualdade social e a liberdade, opondo-se a constituição de partidos políticos enquanto legítimos guias do ímpeto revolucionário, tal como da permanência do Estado nas relações sociais, enquanto os comunistas-marxistas creditavam sua força organizadora (de diretriz única) nas demandas equacionadas por um partido dirigente, valendo-se da conservação de um Estado de base popular que via “ditadura do proletariado” garantiria o sucesso de um modelo econômico que acabaria de vez com a desigualdade social. Orientações que gradativamente sinalizariam perspectivas adversas entre os anarquistas (alimentados por utopias de um comunismo libertário) e a desenvoltura de uma Rússia de aspirações bolchevistas (sedimentada no comunismo autoritário).
Através de seu próprio semanário intitulado A Obra24, que ganhava forma a partir maio de 1920, Florentino de Carvalho munido de sua visão antibolchevista advertia:

Contudo, se, em oposição ás calunias dos burgueses, divulgamos a obra benefica de república russa, nunca fizemos a apologia desse regime, porque demasiado sabiamos que o Estado, qualquer que seja a sua estrutura autoritária ou governamental é essencialmente contrário aos nossos princípios. Sempre mantivemos sobre este assunto as devidas reservas, esperando ser ilustrados por documentos aos quais pudessemos confiar.
Agora, porém, de posse desses documentos, cumpre-nos esclarecer a situação, principalmente e porque, havendo no Rio alguns libertários militantes que tomam a nuvem por Juno, isto é confundem a revolução russa com o Estado burocrático e militarista ali estabelecido, chegando a propagar a organização de um partido socialista-maximalista, o qual teria por fim, entre outras coisas, a conquista do Estado burguês, empregando o processo eleitoral, transformando-o em Estado maximalista (...). (A OBRA, nº 13: 15 de setembro de 1920).

Este escrito reportava-se aos militantes agrupados em torno do Partido Comunista do Brasil criado em 1919 no Rio de Janeiro por anarquistas, e aos propagandistas do jornal Spártacus, o principal instrumento de propaganda do grupo. No transcurso de sua escrita Florentino ainda destaca a necessidade de findar com toda pretensão política estatal, quer de direita, quer de esquerda, entendendo que mesmo a defesa de um Estado travestido de maximalista, incorreria num ato de “traição da causa da emancipação humana”.
Ainda nas páginas de A Obra, encontra-se um texto intitulado “Definindo princípios. O sindicalismo não é marxista. A ditadura do proletariado, clausula capital do marxismo, não é a finalidade do sindicalismo”, em que o autor25 (possivelmente um militante anarco-sindicalista) ataca o bolchevismo, figurado por ele como “modismo”, devido a sedução que teria causado em vários amigos militantes, buscando converter o sindicalismo revolucionário em uma simples modalidade do socialismo marxista. Insurgência possivelmente decorrente da gama propagandista de verve bolchevista e do teor desordenado de algumas matérias vinculadas no periódico Spártacus tais como esta: “Chama-te então o que quiseres, - bolchevista, sovietista, anarquista, sindicalista, rebelde, revoltado, maximalista, - és um camarada, és um irmão”26. (SPÁRTACUS, nº 18: 29 de novembro de 1919).
Desta forma, reportando-se a um contexto de incertezas que figurava no meio operário e libertário no Brasil do começo do século XX, o ex-anarquista Astrogildo Pereira, em depoimento expunha: “O que não se sabia ao certo é que os comunistas que se achavam à frente da revolução russa eram marxistas e não anarquistas. Só mais tarde estas diferenças se esclareceram, produzindo rupturas entre os anarquistas”.(BANDEIRA, 1967: 159).
Contundentes notícias sobre o assassinato de socialistas e anarquistas, e das vilanias praticadas pelo Exército Vermelho de Trótski sobre o movimento libertário Makhnovista (ao final de 1920) na Ucrânia,27 ainda como, contra os marinheiros insurgentes de Kronstadt28 (no começo de 1921) multiplicavam-se, trazendo consigo manifestações contra o Estado Soviético e os bolchevistas em terras brasileiras.

Dilemas de intenções e tensões que produziriam no movimento anarquista brasileiro, cisões, remodelando o cenário das lutas operárias, principalmente com a criação em 1922 do Partido Comunista do Brasil (PCB) - órgão oficial bolchevista - por ex-anarquistas, a partir do programa proposto em 1921 por um emissário bolchevista29 a serviço do comunismo russo. Fomentando duelos de forças entre anarquistas e comunistas, mediante os horizontes de transformação da sociedade capitalista industrial, que se perpetuaria de forma mais persistente durante as primeiras décadas do século XX.


* Mestre em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
1 Notas

1 A Rússia já bastante desgastada pelos anos de batalha, retirava-se do conflito mediante a Revolução Socialista que se desenvolvia em seu país no transcurso de 1917, neste mesmo ano os EUA declaravam guerra a Alemanha, dando equilíbrio a Tríplice Entente, assim como garantindo o retorno de seus investimentos, configurados em empréstimos financeiros.
2 Comunidade agrária na Ucrânia em que os camponeses liderados por Nestor Makhno, socializaram as terras segundo os princípios libertários.
3 Filho de camponeses pobres do sul da Ucrânia, foi um hábil revolucionário envolvido em atentados e ações expropriadoras contra ricos proprietários, entre 1905 e 1908. Preso em 1908 é condenado a trabalhos forçados, porém com os acontecimentos de 1917 que convulsionam a Rússia, recuperava sua liberdade, retornado a região de Goulai-Polé (sua terra natal), onde organiza uma guerrilha popular e revolucionária, conhecida como Movimento Makhnovista. No Brasil publicou-se de Nestor Makhno as seguintes coletâneas de textos: A “Revolução” contra a Revolução. A Revolução Russa na Ucrânia (março 1917 – abril 1918). São Paulo: Cortez, 1988; Anarquia & Organização: plataforma de organização e outros escritos. São Paulo: Luta Libertária, s/d. Ainda sobre Nestor Makhno e o Movimento Makhnovista tem-se: ARCHINOV, Piotr. História do Movimento Makhnovista. Lisboa: Assírio & Alvim, 1976; BERKMAN, Alexandre, et al. A Revolução Social na Ucrânia. São Paulo: Imaginário, 2001.
4 Compunham o denominado Exército Branco, eram partidários do Antigo Regime tzarista, responsáveis pelo processo que ficaria conhecido como Contra-Revolução.
5 Grupo que depositava os anseios de Revolução no projetar de uma Greve Geral expropriadora da burguesia.
6 Adeptos do programa máximo do partido socialista russo. Acerca do uso do termo maximalista corriqueiramente utilizado Edgard Leuenroth em O que é maximismo ou o bolchevismo reitera: “`Maximalismo` , ´Bolshevikismo´, etc. são idiotismos que tiveram origem na tradução do idioma russo para o inglês e deste para o português”. p. 7.
7 Os primeiros meses de 1913 seriam marcados por Campanhas Contra a Carestia da Vida, organizadas pela Federação Operária do Rio de Janeiro (FORJ) e pela Confederação Operária Brasileira (COB), enquanto protesto frente ao aumento abusivo dos gêneros de primeira necessidade, tais agitações abarcaram os Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
8 Movimento que dava os primeiros passos em meados de junho, através de trabalhadores da indústria têxtil Cotonifício Crespi, na Moóca, e que no transcurso de julho foi ganhando mais adeptos, deflagrando uma Greve Geral por três dias. Sobre tais acontecimentos destacamos um importante relato agregado a obra: BEIGUELMAN, Paula. Os companheiros de São Paulo. 2ª ed. São Paulo: Global, 1981.
9 Importante jornal anarquista surgido em 1917 em São Paulo, pelas mãos do jornalista libertário Edgard Leuenroth. A Plebe um dos mais duradouros jornais anarquistas no Brasil, perdurou até 1949 (tendo uma trajetória marcada por interrupções), sendo o mesmo um “momentâneo” substituto do periódico anticlerical A Lanterna, que interrompia suas atividades em 1916 (reaparecendo em 1933).
10 Importante militante anarquista envolvido na desenvoltura de diversos jornais anarquistas, entre os quais A Terra Livre, A Lanterna, A Plebe, A Vanguarda, Ação Direta, fora um dos fundadores da Federação Operária de São Paulo (1905) tendo participado da organização do Primeiro, Segundo e Terceiro Congressos Operários Brasileiros, ainda através de suas mãos ganhava forma um dos mais importantes arquivos sobre as lutas sociais no Brasil, hoje sob responsabilidade da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Da autoria de Leuenroth publicou-se: Anarquismo: roteiro da libertação social. Rio de Janeiro: Mundo Livre, 1963 (re-editado em 2007 pela editora Achiamé); A organização dos jornalistas brasileiros (1908-1951). São Paulo: COM-ARTE, 1987. Outrossim, publicou-se uma pequena e interessante biografia sobre este combatente da liberdade na coleção Rebeldes Brasileiros fascículo 7, da revista Caros Amigos.
11 Sigla da Federação Operária do Rio de Janeiro. Acerca da trajetória de lutas desta instituição consultar: NETO, Oscar Farinha. Atuação Libertária no Brasil. A Federação Anarco-Sindicalista. Rio de Janeiro: Achiamé, s/d.
12 Alguns autores mencionam ainda a constituição de greves no ano de 1917 nos estados de Rio de Janeiro, Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraná e Santa Catarina.
13 Sobre este episódio existe o importante trabalho de ADDOR, Carlos Augusto. A Insurreição Anarquista no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Dois Pontos, 1986.
14 Pseudônimo de Antonio Candeias Duarte.
15 Periódico surgido no Rio de Janeiro em 2 de agosto de 1919, pela iniciava de Salvador Alacid, José Oiticica e Astrogildo Pereira, duraria somente até o começo de 1920, sendo substituído pelo jornal Voz do Povo.
16 José Rodrigues Leite e Oiticica, professor e anarquista que atuou na Liga Anticlerical do Rio de Janeiro, e organizou periódicos, como Ação Direta, A Vida, Na Barricada entre outros. Autor da obra A doutrina anarquista ao alcance de todos. 3ª ed. São Paulo: Econômica editorial, 1983. Pela já extinta editora Germinal do Rio de Janeiro que pertenceu ao libertário Roberto das Neves, seriam publicados duas coletâneas de textos de José Oiticica, primeiro Curso de Literatura (1960) contendo texto sobre lingüística publicados originalmente no jornal anarquista Ação Direta, e depois Ação Direta: antolologia dos melhores artigos publicados na imprensa brasileira – meio século de pregação libertária (1970), esta obra trás textos publicados em vários jornais do país, com grande suporte de artigos extraídos das páginas do Ação Direta.
17 Anarquista que extasiado pela Revolução Russa abandonaria o ideal ácrata convertendo-se ao comunismo, foi um dos criadores do PCB, enquanto partido oficial bolchevista, em 1922.
18 Spártacus. Rio de Janeiro, nº 1, 2 de agosto de 1919.
19 Spártacus. Rio de Janeiro, nº 15, 8 de novembro de 1919.
20 Spártacus. Rio de Janeiro, nº 10, 4 de outubro de 1919.
21 Spártacus. Rio de Janeiro, nº 15, 8 de novembro de 1919. Fragmento de um texto intitulado “A Revolução Russa”.
22 Valendo-se do pseudônimo Izaias Caminha, escreve ao jornal sindicalista revolucionário do Rio de Janeiro A Voz do Trabalhador, órgão da Confederação Operária Brasileira (COB), datado de 15 de maio de 1913, um artigo intitulado “Palavras de ´snob` anarquista”. Sobre os vínculos libertários de Lima Barreto ver o texto de: MONTENEGRO, José Benjamin. Lima Barreto: escritor negro e anarquista. In: DEMINICIS, Rafael Borges & FILHO, Daniel Aarão Reis (Org.). História do Anarquismo no Brasil – Vol. 1. Niterói: UFF; Rio de Janeiro: Mauad, 2006.
23 Pseudônimo adotado por Primitivo Raymundo Soares. Acerca da trajetória política deste libertário consultar: NASCIMENTO, Rogério H. Z. Florentino de Carvalho – pensamento social de um anarquista. Rio de Janeiro: Achiamé, 2000.
24 Periódico surgido em 1 de maio de 1920, e que sucumbiria ao final do mesmo ano.
25 Texto assinado por Arnaldo Danel.
26 Artigo de Manuel Ribeiro, intitulado “Definições: Bolchevismo, Anarquismo, Sindicalismo ...”.
27 O Exército Vermelho metralharia no final de 1920 (no istmo de Perekop) o exército makhnovista que regressava vitorioso do combate as tropas contra-revolucionárias de Wrangel. Nestor Makhno sobrevive, partindo em 1921 ao exílio.
28 Sublevação de marinheiros que contagiados pelo ideal libertário exigiam completa autonomia dos Sovietes (Conselhos) frente ao poder do Partido e do Estado, valendo-se da premissa dos primeiros tempos da Revolução: “Todo o poder aos sovietes”. Sobre tal acontecimento tem-se duas importantes de obras referência: ARVON, Henri. A Revolta de Kronstadt. São Paulo: Brasiliense, 1984; ROCKER, Rudolf. Os sovietes traídos pelos bolcheviques. São Paulo: Hedra, 2007.
29 Segundo Edgar Rodrigues em sua obra Nacionalismo & Cultura Social (1972) o nome do emissário era Ramison Soubiroff, o mesmo a principio teria procurado em São Paulo por Edgard Leuenroth, acreditando ser o mesmo a pessoal ideal para a fundação de um Partido Comunista oficial no Brasil, negando o convite, Leuenroth a pedido de Soubiroff que ansiava pela indicação de outro militante político, sugestiona a pessoa de Astrogildo Pereira que atuava no Rio de Janeiro, e que acabaria por não exitar em aceitar tal incumbência, nascendo assim em 1922 o PCB via 11 ex-anarquistas e um socialista, enquanto órgão de propagação bolchevista amparado em diretrizes soviéticas.




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