quinta-feira, 30 de abril de 2009

Maio Vermelho e Negro



“Não. O Primeiro de Maio não é um dia de festa. É um dia de luto e de protesto. E é um dia em que se ensaiam, pondo-as á prova, as forças revolucionárias do proletariado de todo o mundo”. Bradava assim, o jornal A Voz do Trabalhador – Órgão da Confederação Operária Brasileira -, de 15 de abril de 1913 impresso no Rio de Janeiro por mãos plebéias. Mas o que estaria por trás do Primeiro de Maio, esta data aclamada pelas classes laboriosas? Pois bem, convido-os a mergulharem neste afluente da história, deixando-se levar por suas correntezas, rumo a terras distantes.


Manhã de sábado, primeiro dia de Maio de 1886, uma greve geral silencia várias cidades norte-americanas, especialmente Chicago. Envoltos pelas idéias socialistas e anarquistas, trabalhadores organizados num movimento pacífico reivindicam: “Oito horas de trabalho! Oito horas de repouso! Oito horas de educação!”. Manifestação que seria recebida pelas autoridades com truculência. Frente a tal situação, manifestantes marcam para o dia 4 de maio um comício contra a violência, que terminou em mais agressões diante o ataque feroz de policiais contra homens, mulheres e crianças, tumulto que se agravaria ainda mais, mediante a explosão de uma bomba, ferindo cerca de sessenta pessoas e matando oito policiais. O autor real do atentado nunca fora descoberto.


Tal acontecimento seria imortalizado pela obra de Frank Harris A Bomba, escrito que apesar de assumir-se como ficcional, para muitos (pelos detalhes da descrição) seria uma espécie de confissão, elaborada pelo responsável da explosão. Seja como for, diante do incidente com a bomba, a polícia de Chicago age com mais violência contra os manifestantes, deixando as ruas tingidas de sangue. Sobre este trágico dia, José Luiz Del Roio, na obra A história de um dia: Primeiro de Maio, comenta: “Nunca se conseguiu apurar quantos foram os mortos daquele maldito dia, pois os corpos foram enterrados às escondidas. Seguramente foram dezenas. É decretado o estado de sítio e a proibição de sair às ruas. Milhares de trabalhadores são presos, muitas sedes sindicais incendiadas”.


Além da violência contra os trabalhadores, às autoridades norte-americanas moveriam uma ação judicial contra destacados militantes sindicais, chegando inclusive a responsabilizá-los pela explosão da bomba. Entre os processados estavam: os anarquistas August Spies e Michel Schwab (redatores dos jornais operários: Arbeiter Zeitung [Jornal do Trabalhador], e Verboten [Proibido]), Albert Parsons (editor do jornal Alarm), assim como, Sam Fielden, Oscar Neeb, Adoloph Fischer, Louis Lingg e Georg Engel.


Iniciado em 21 de junho de 1886, o julgamento seria marcado por provas e testemunhas forjadas, visando efetuar uma punição exemplar ao movimento operário organizado, sendo que todos acabariam condenados: Neeb pega quinze anos de cárcere; Schwab e Fielden prisão perpétua; Engel, Fischer, Parsons, Lingg e Spies à forca. Diante da sentença – conforme destaca José Luiz Del Roio -, Neeb, expõe: “Cometi um grande crime, excelência. Eu vi os balconistas dessa cidade trabalhar até 9 ou 10 horas da noite. Lancei um apelo para a organização da categoria e agora eles trabalham até as 7 horas da noite; aos domingos estão livres. E isso é um grande crime”.


E, sob a espada da “justiça”, no dia 11 de novembro, os condenados foram levados à forca, ocasião em que Georg Engel gritou: “Viva a anarquia!”. Com isso, os “Mártires de Chicago” marcariam para sempre o Primeiro de Maio enquanto uma data em prol daqueles que sobrevivem da sua própria labuta. Assim, enquanto as autoridades, pelo poder da violência silenciavam tais homens suas idéias e sonhos - de tempos menos injustos – permaneceram vivas, germinando ora aqui, ora ali.
Cleber Rudy

Um comentário:

  1. Muito bom este texto sobre o 1 de Maio. Porém hoje eu vejo que o sentido da data foi perdida, é como uma data vazia dentro da sociedade operária. É como o dia Internacional da Mulher, hoje em dia as mulheres que ainda sabem o significado da data são muito poucas, e as outras jogam a data de luta na lata de lixo.
    Penso que os movimentos operários perderam uma certa força de uns 30 anos para cá. Mas posso citar um exemplo que foi no fim do ano passado sobre as lutas na Grécia, como dias historiador Mike Davis "na grécia foi a primeira faisca". Concordo que foi a primeira faisca, ainda existe as inressureições pelo mundo a fora, por causa da nova onde da crise enconomica. E no 1 de Maio houve muitos protestos, alguns vários oportunistas, mas outros com legitimidade.
    Concluindo, vejo que os movimentos operários ainda tem força, o problema é que se esquece do significado das coisas, como desta data. Deveria ter uma organização não oficial sobre esses movimentos (não sei bem como, não tenho o conhecimento o suficiente sobre está parte do assunto). E também sobre os movimentos estudantis que de uns tempos para cá quase não vejo um efetivo.
    Bom gostei do texto Maio Vermelho e Negro, e os parabenizo pelo Blog.

    Leonardo Luchini Fortinho

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