domingo, 22 de fevereiro de 2009

R., O Vampiro do Vaticano

R., O VAMPIRO DO VATICANO*
Vulgo Ratzinger, o Bento XVI

Amparado numa tradição que supera um milênio, Bento XVI investido de seu primado papal[1], ao completar dois anos de pontifício, recoloca a Igreja e sua visão sobre as práticas sociais e ou valores morais num patamar de contornos medievais, época aquela a qual a Igreja ao embalo de Dies Irae[2], patrocinava excomunhões, perseguições religiosas, censura e visionava a aproximação do Juízo Final.
Durante sua estadia no Brasil (um dos maiores países católicos do mundo), em maio deste ano sua santidade enquanto elemento de restituição de uma fé abalada[3] deixaria um rastro de hediondas afirmações, tão ad absurdum quanto às idéias totalizantes do nazismo, do qual, Joseph Ratzinger fora participante, via juventude hitlerista.
E entre os Sacramentum Caritatis[5] tem-se, o casamento enquanto união indissolúvel e concebível somente entre um homem e uma mulher, a condenação da homossexualidade, a abominação do aborto, a execração de métodos anticoncepcionais, ainda como a reafirmação da existência do inferno enquanto fim intransponível aos pecadores. Elementos que constituem somente a ponta deste Iceberg de natureza sacra.
Mas os valores de sua doutrina que exalam a incenso vão além, ao AFIRMAR que não houve excessos por parte da Igreja Católica durante a Colonização da América Latina. Seria a opacidade de sua membrana ocular ou a fobia por leituras mais apuradas que o levariam a tais ímpetos anti-históricos? Pois um leve correr dos olhos (mesmo aos que sofrem de estrabismo intelectual, como Ratzinger), pelos escritos de Bartolomé de Las Casas[6], bastariam para revelar que excessos ocorreram e das mais variadas naturezas e tamanhos, e sob os auspícios da CRUZ.
Hoje se nega o Genocídio cultural dos povos ameríndios, amanhã, quem sabe o Holocausto, depois a Inquisição, e neste reboliço de insanidades, não espantaria se expusesse que um míssel balístico, como o SS27 Topol-M[7], é uma ilusão demoníaca.
Sendo assim, sua santidade e suas idéias, que alguns banalmente intitulam de intelectualidade, não comportam afirmativas cabíveis para um mundo que cada vez mais adentra na contemporaneidade do século 21.
Bento XVI, ainda com sua “sapiência” expõe, “a América Latina deve se apoiar na fé, e não em ideologias políticas e movimentos sociais”. Mas contradigo, a América Latina se faz e re-faz mediante lutas emanadas de movimentos sociais e ideologias políticas, enquanto contramão da antiga cultura do medo disseminada pela fé dos algozes, buscando assim, uma outra realidade, concebível aqui mesmo na terra, e não para uma além vida entre o romper de aviões.
E munido mais uma vez de sua oratória conservadora, Ratzinger advertira sobre os suplícios da perdição referentes à sexualidade humana. Se por um lado o italiano Mateo Colombo[8] revelaria no século XVI um tal de Amor Veneris enquanto descoberta, no contraponto a este achado, uma gama de “santos homens”, (renovada neste século pelo Sr. Joseph R.), prosseguiriam na demonização de tal revelação carnal, afirmando: “cruz, credo, isto é pecado”, ou ainda, ruborizando: “Oh, Pai nos afastais de tanto mal”.
Mas após dias tão agitados, entre ser ou não ser... Com a despedida do Papa, a “tranqüilidade” pouco a pouco voltaria a reinar nos lares tupiniquins[9]. Inúmeras beatas e senhoras de família puderam retornar ao alento festivo do seu consolo - torneado em pau de carvalho e benzido nas águas da Santa Madre Igreja -, e entre “uis”, e “ais”, não negam o milagre do “santo instrumento” no combate ao stress de cada dia, que nos daí hoje, tanta euforiaaaa.

Cleber Rudy[10]
* Alegoria ao nome do filme M., o Vampiro de Düsserdorf, de Fritz Lang, editado em 1931.
[1] No ano 600 se institui o primado do Papa, ou seja, sua superioridade.
[2] Hino em latim do século XIII, de contornos apocalípticos.
[3] Abalos perpetuados mediante a disseminação de inúmeras outras igrejas e cultos religiosos, por vezes com valores mais flexíveis do que os instituídos pela Igreja Católica.
[4] Termo em latim para denominar, absurdo.
[5] Documento constituído de 131 páginas, contendo 50 propostas elaboradas pelo Papa e aprovadas por um conselho formado por 256 bispos.
[6] Frei que denunciou os abusos cometidos durante a conquista da América Espanhola, os quais constituem a obra intitulada: O Paraíso Destruído.
[7] Míssel balístico com ogivas múltiplas, lazer entre outras parafernálias de alta-tecnologia destrutiva.
[8] Anatomista que descobriu o clitóris, ou seja, o Amor Veneris.
[9] Termo que remonta aos longínquos habitantes das terras brasileiras, sendo o mesmo, empregado de forma pejorativa para denominar quem nasce no Brasil.
[10] Professor e pesquisador em História Social. Texto Publicado originalmente na Revista Utopia (Lisboa) nº 23 - jan. jun. de 2007.

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